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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cristãos Alegres na Igreja Sofredora

Johan Companjen

Há muitos conceitos errados em relação à Igreja Sofredora:
• Nós (a igreja do mundo livre) somos privilegiados – eles é que são privados.
• Nós é que temos muitos motivos de gratidão – eles só podem orar.
• Nós temos alegria – eles só têm tristeza.

Se avaliarmos o valor da vida somente por padrões materiais, estas observações provavelmente estejam corretas. O povo perseguido realmente tem falta de muitas coisas que tornam nossas vidas mais agradáveis. E além disso, precisam lidar com muita tristeza. Enfrentam oposição e discriminação.

Mas Jesus nos ensinou que a vida consiste de muito mais que o pão. Um bom carro, uma bela casa e bastante dinheiro não nos tornam necessariamente mais felizes! Há muitos exemplos disso à nossa volta.

Grande parte dos nossos irmãos e irmãs perseguidos tem pouquíssimos tesouros aqui na terra. Mas têm tesouros no céu. E Jesus nos disse em Mateus 6.21 que onde estiver nosso tesouro, lá estará nosso coração também. Riqueza espiritual não depende de riqueza material. Nossas vidas aqui na terra são muito curtas em comparação com a eternidade.

Não resta dúvida que passar falta das coisas materiais pode ser muito duro, especialmente quando se trata de alimento. Mas muitas pessoas neste lado do mundo morrem espiritualmente por causa de ter excesso de riquezas materiais.

A alegria que a Igreja Sofredora experimenta no meio da sua tristeza não é baseada em coisas passageiras. Não esperam honra nem reconhecimento do seu ambiente hostil. Têm pouquíssimas possessões materiais. Mas com seus olhos fixos em Jesus, de fato experimentam a alegria que a Bíblia promete.

É a alegria que permanece, mesmo quando problemas vêm em nosso caminho. É a alegria que Jesus prometeu aos seus discípulos, pouco antes de ir para a cruz. Ele sabia que seria difícil para seus seguidores. Sofreriam muito. Seriam perseguidos, assim como ele foi. Entretanto, prometeu-lhes uma alegria que ninguém conseguiria tirar deles (Jo 16.22).

Esta alegria não é baseada na ausência de tristeza, mas na presença de Jesus nas nossas vidas. Paulo conhecia esta alegria. De outra forma, como poderia ter cantado na sua cela de prisão em Filipos? E nos exortou, escrevendo de outra cela, a "regozijar-nos no Senhor" (Fp 3.1).
Pedro conhecia esta alegria, do contrário não poderia ter falado com os crentes primitivos para se regozijarem por serem perseguidos (1 Pe 4.13).

Davi conhecia esta alegria. Todas as vezes que enfrentava uma situação desesperadora na sua vida, buscava a face de Deus e era transformado. "Na tua presença há plenitude de alegria", testificou (Sl 16.11).

Jesus prometeu alegria a todos seus seguidores, não somente à Igreja Sofredora. Prometeu-a a você e a mim. Não depende das circunstâncias, mas da presença dele na nossa vida. Há alegria na presença de Jesus. Sorria!

Johan Companjen é da Missão Portas Abertas. Maiores informações sobre o seu trabalho e a Igreja Sofredora no site: http://www.portasabertas.org.br/

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Muçulmanos interrompem exibição de filme sobre Jesus

PAQUISTÃO (13º) - Cerca de 50 muçulmanos armados com paus e machados atacaram uma exibição do filmes “Jesus”, em uma cidade da província de Punjab, na quarta-feira, 9 de dezembro, ferindo três evangelistas e quatro cristãos.

Dois dos evangelistas ficaram gravemente feridos. Os extremistas muçulmanos também destruíram o projetor, queimaram rolos de filmes e fugiram com as doações dos cristãos no vilarejo de Chak, cerca de 10 km de Sargodha.

Os policiais da delegacia de Saddr se recusaram a registrar uma ocorrência contra os agressores muçulmanos.

Os três evangelistas - Ishtiaq Bhatti, Imtiaz Ghauri and Kaleem Ghulam – que projetavam o filme no terreno da igreja católica de Chak, que fica na jurisdição da delegacia de polícia. Ishtiaq disse que a área da igreja foi preenchida com palmas enquanto Jesus realizava milagres, ressuscitava os mortos, expulsando espíritos demoníacos e curando os enfermos.

Os feridos no acidente foram levados para a Unidade Básica de Saúde (BHU), do vilarejo de Chak. Ishtiaq recebeu tratamento para pequenos machucados, enquanto Imtiaz e Kaleem ficaram gravemente feridos e foram levados para outro hospital.

Eles disseram que os líderes muçulmanos instigaram a violência contra os cristãos.

“Eles vieram para nos matar, quebraram todos os nossos equipamentos e levaram todas as doações ofertadas pelos membros da igreja. Os muçulmanos também feriram os cristãos que tentaram impedi-los de destruírem tudo.”

A intervenção de Chaudhary Nassar-Ullah Cheema, líder do vilarejo, resultou no resgate dos evangelistas e na rendição do grupo de muçulmanos. Os extremistas foram forçados a deixar o terreno da igreja, mas somente após um intervalo de duas horas.

Testemunhas oculares disseram que muitos muçulmanos e seus líderes se reuniram fora da igreja enquanto o filme estava sendo exibido, inclusive subindo em árvores para ter uma melhor visão da tela. Elas disseram que enquanto os muçulmanos assistiam ao momento da ressurreição e ascensão de Cristo, eles ficaram enfurecidos, porque o islamismo que seguem proíbe a demonstração de um homem vivo, principalmente um profeta.

As fontes afirmaram que, apesar de os muçulmanos acreditarem que Cristo foi um profeta, mas não creem na crucificação, afirmando que outro homem foi colocado em seu lugar naquele momento.

Os cristãos tentaram prestar queixa na polícia, mas os policiais não permitiram.


Tradução: Missão Portas Abertas





Debates sobre o islamismo na Europa




EUROPA - A recente votação na Suíça que culminou na proibição da construção de novos minaretes chocou e enfureceu muçulmanos em todo o mundo. Mas a medida polêmica também reflete uma sensação crescente de desconforto entre outros europeus que sentem dificuldades em aceitar a visibilidade cada vez maior do islamismo. 

Na pequena cidade suíça de Langenthal, a batalha em torno dos minaretes tem sido travada, e não parece haver esperança de reconciliação entre vitoriosos e derrotados. "Eu me sinto vítima de abuso e ferido como pessoa", queixa-se Mutalip Karaademi. "Nós queríamos atingir um símbolo", afirma Daniel Zingg. "E nós o atingimos". 

Zingg impediu a construção do minarete desejado por Karaademi, e conseguiu fazer com que se tornasse ilegal a construção de qualquer outro minarete na Suíça. Ele foi um dos autores do texto do referendo que foi aprovado pelos suíços em 29 de novembro último, com 57,5% dos votos. Agora a constituição trará a seguinte sentença: "É proibida a construção de minaretes". 

A decisão suíça chocou a Europa e o mundo porque os seus desdobramentos vão bem além da construção de minaretes - eles dizem respeito também à identidade de um continente inteiro. Este foi um referendo sobre a percepção ocidental do islamismo como uma ameaça. 

A questão está gerando intensos debates: até que ponto a Europa preponderantemente cristã está preparada para aceitar o islamismo? A decisão tomada por este país alpino tradicionalmente tolerante revela o temor profundo quanto a um islamismo que está se tornando cada vez mais visível. 

Os imigrantes muçulmanos estão ameaçando os valores europeus? Esta é uma preocupação compartilhada por muitos europeus em todo o continente. Pesquisas de opinião conduzidas na semana passada revelaram que 44% dos alemães e 41% dos franceses opõem-se à construção de minaretes. E 55% de todos os europeus veem o islamismo como uma religião intolerante. 

Críticas veementes

Isso explicaria também por que as críticas à votação foram tão veementes. O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, os Estados Unidos e o Vaticano uniram-se nas críticas. 

Eles disseram que a votação suíça violou os princípios de liberdade de religião e de não discriminação. O ministro da Turquia na União Europeia pediu aos muçulmanos que invistam o seu dinheiro na Turquia, em vez de na Suíça, e o primeiro-ministro turco Tayyip Erdogan disse que o fato reflete "uma posição cada vez mais racista e fascista na Europa". 

Por ora, o que se conteve foi o minarete da comunidade religiosa muçulmana de Langenthal. Mutalip Karaademi, 51, um indivíduo de etnia albanesa que imigrou da Macedônia 26 anos atrás, está de pé em frente à instalação usada pela sua associação religiosa. O prédio é uma antiga fábrica de tinta na periferia da cidade. No topo há uma construção de madeira medindo 6,1 metros. Ela mostra a altura do minarete planejado. O primeiro minarete, que não pode ser construído. 

Karaademi é o líder da comunidade muçulmana local, cujos 130 membros vieram da Albânia, do Kosovo e da Macedônia. A pequena mesquita foi inaugurada 18 anos atrás. No início o minarete não era muito importante, diz Karaademi. Ele era simplesmente um complemento ornamental. Mas agora ele transformou-se em uma questão de princípios. 

Ele deseja tomar providências legais - se necessário, ir até ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, onde é bastante possível que os juízes em Estrasburgo acabem revertendo a decisão constitucional suíça. Karaademi diz adorar a Suíça, que para ele é um modelo de país. "Mas esta proibição é racista e nos discrimina. É um escândalo para o mundo civilizado", queixa-se ele. 

A batalha de um só homem

O tranquilo vencedor desta batalha é Daniel Zingg, 53, um homem calvo que usa óculos de metal. Ele está sentado em uma pizzaria em frente à estação ferroviária de Langenthal, e conversa em uma voz rouca e baixa. "Os minaretes, aquelas pontas de lança da Sharia, aqueles marcos de território recém-conquistado pelo islamismo, não podem mais ser construídos aqui", diz ele. 

"E, dessa forma, a Suíça resolveu um problema que já havia se tornado aparentemente insolúvel em outros lugares, tais como nas grandes cidades da Inglaterra e da França. É um fato bem conhecido que primeiro chegam os minaretes, depois os muezins, os indivíduos que convocam os crentes às preces, as burcas e, finalmente, a lei Sharia", diz ele. Segundo Zingg, a proibição não é dirigida contra os muçulmanos, embora seja verdade que "o Alcorão delega às pessoas a missão de islamizar o mundo, e os muçulmanos daqui não tem nenhuma outra missão, caso contrário, eles não seriam muçulmanos". 

Leia a matéria na íntegra. 



Fonte: UOL

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pastor é atacado durante reunião de oração

ÍNDIA (22º) - O pastor Nidanapu, da igreja Sião, foi atacado por ativistas hindus no vilarejo de Kistapuram, Marikkal Mandal, distrito de Mahabubnagar, Andhra Pradesh, no dia 9 de dezembro.

O pastor estava voltando para casa após realizar uma reunião de oração na casa de um cristão juntamente com alguns membros da igreja. Por volta das 20h, um grupo de ativistas hindus atacou o pastor e os cristãos presentes na reunião. Eles o agrediram muito, provocando ferimentos internos, mas logo o pastor foi levado para o hospital mais próximo. Os agressores tumultuavam, gritando frases contra a fé cristã e acusando os cristãos de realizar conversões forçadas.

Os cristãos locais contataram a All India Christian Council para conseguir ajuda.

Tradução: Missão Portas Abertas

Igreja é incendiada por radicais hindus

ÍNDIA (22º) - Uma igreja foi incendiada por radicais hindus na terça-feira, 8 de dezembro, no distrito de Karimnagar, estado de Andhra Pradesh, Índia.

De acordo com o Conselho Global de Cristãos Indianos (GCIC), as investigações revelaram que, por volta das 2h, integrantes de grupos radicais como o Rashtriya Swayam Sevaks e o Bharatiya Janatha Party (BJP), espalharam gasolina na igreja Jesus Lights Manna, e a incendiaram.

A fonte afirmou que a entrada principal da igreja, o altar, as cortinas, o sistema de som da igreja, livros e Bíblias viraram cinzas.

Sabe-se que, por volta das 4h, pessoas que viram a igreja queimando informaram o pastor Mengu Elia que, por sua vez, foi até a delegacia mais próxima e relatou o crime para a polícia, denunciando os radicais hindus.

A fonte diz que os policiais prenderam um dos líderes do BJP e outro criminosos, que estavam diretamente ligados ao incêndio.


Tradução: Missão Portas Abertas
Fonte: ANS

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Curando Almas: a Arte Esquecida


No desafio de liderar uma igreja, algo de essencial foi ignorado.
Eugene Peterson


Pode haver uma reforma em andamento na maneira como os pastores realizam o seu trabalho. Ela pode revelar-se tão significativa quanto a reforma teológica do século XVI. Espero que sim. Os sinais não param de se acumular.
Os reformadores recuperaram a doutrina bíblica da justificação pela fé. A proclamação – fresca, pessoal e direta – do evangelho, através dos séculos, tornou-se uma imenso e pesada engrenagem: mecanismos teológicos elaboradamente planejados, roldanas, niveladores produzindo ruído com seu atrito para, no final, resultar em algo completamente trivial. Os reformadores recuperaram a paixão pessoal e a clareza tão evidentes nas Escrituras. Esta redescoberta do envolvimento íntimo resultou em frescor e vigor.
A reforma vocacional do nosso próprio tempo (caso se trate disso) é uma redescoberta do trabalho pastoral de curar almas. A frase soa antiga, o que ela é de fato. Mas não obsoleta. Ela designa, melhor do que qualquer outra expressão de que eu tenha conhecimento, por um lado o combate incessante contra o pecado e a tristeza, e, por outro, o cultivo dedicado da graça e da fé ao qual os melhores pastores têm se consagrado a cada geração. A sonoridade esquisita da frase pode até apresentar uma vantagem: chamar a atenção para o fato de quão distantes as rotinas pastorais da atualidade se tornaram.
Eu não sou o único pastor que descobriu esta antiga identidade. Mais e mais pastores estão abraçando esta forma de trabalho pastoral e considerando-a um caminho legítimo. Não somos muitos e não somos maioria. E tampouco somos uma minoria destacada. Mas, um a um, os pastores estão rejeitando o pedido de trabalho que lhes foi entregue e preferindo este novo – ou, como parece ser o caso, o antigo tem sido usado durante quase todos os séculos Cristãos.
Não é só fantasia pensar numa época em que os números alcançarão uma massa crítica e produzirão uma reforma vocacional dentre os pastores. Mesmo em caso negativo, me parece a coisa mais significativa e criativa acontecendo no ministério pastoral dos dias de hoje.
O trabalho da semana
O que os pastores fazem no domingo é diferente do que eles fazem entre os domingos. Aquilo que fazemos nos domingos não mudou muito ao longo dos séculos: proclamar o evangelho, ensinar as Escrituras, celebrar os sacramentos, oferecer preces. O trabalho entre um domingo e outro, por sua vez, mudou radicalmente, e não no sentido de um progresso, mas de uma deserção.
Até mais ou menos um século atrás, o que os pastores faziam entre os domingos consistia em uma parte daquilo que eles faziam aos domingos. O contexto mudou: ao invés de uma congregação reunida, o pastor se reunia com uma pessoa ou com um pequeno grupo, ou fazia seus estudos e orações até mesmo sozinho. A maneira mudou: no lugar da proclamação, era a conversa. Mas o trabalho era o mesmo: descobrir o significado das Escrituras, desenvolver uma vida de oração com o objetivo de orientar o crescimento em direção à maturidade.
Este é o trabalho pastoral que foi historicamente definido como a cura das almas. O sentido básico de “cura” em latim é “cuidado”. A alma é a essência da personalidade humana. Neste sentido, a cura das almas consiste, pois, no cuidado orientado pelas Escrituras e modelado pela oração, e voltado a indivíduos ou grupos, seja em contextos sagrados ou profanos. Trata-se, pois, da determinação de se trabalhar o centro, de se concentrar sobre o essencial.
O trabalho entre domingos dos pastores norte-americanos neste século, entretanto, é administrar uma igreja. Ouvi esta frase pela primeira vez durante minha ordenação. Após 25 anos, ainda consigo lembrar da impressão desagradável que ela deixou em mim.
Eu viajava em companhia de um pastor pelo qual tinha muito respeito. Eu estava cheio de entusiasmo e expectativas, antecipando minha vida pastoral. Minha convicção interior da chamada ao pastoreio estava prestes a ser confirmada por outras pessoas. O que Deus desejava que eu fizesse, o que eu queria fazer e o que os outros queriam que eu fizesse estavam em ponto de convergência. A partir de uma leitura razoavelmente extensa de pastores e padres do passado, eu me impressionava com o fato de que a vida pastoral tinha como preocupação primeira o desenvolvimento de uma vida de oração entre as pessoas. Liderar a devoção, pregar o evangelho e ensinar as Escrituras aos domingos desenvolveria, nos seis dias seguintes, a representação da vida de Cristo durante o trânsito humano do dia-a-dia.
Enquanto minha mente estava repleta destes pensamentos, meu amigo pastor e eu paramos em um posto de gasolina. Ele, uma pessoa gregária, discutiu com o frentista. Algo relacionado ao troco provocou a discussão.
“O que você faz?”
“Eu lidero uma igreja”.
Nenhuma resposta teria me surpreendido mais. Eu sabia, claro, que a vida pastoral incluía responsabilidades institucionais, mas nunca me ocorrera que eu viria a ser definido por tais responsabilidades. Mas no momento em que fui ordenado, descobri que eu era definido tanto pelos pastores e executivos ao redor quanto pelos paroquianos em volta de mim. A primeira tarefa submetida a mim omitia completamente a oração.
Enquanto minha identidade pastoral estava sendo moldada por Gregório e Bernardo, Lutero e Calvino, Richard Baxter de Kidderminster e Nicolau Ferrara de Little Gidding, George Herbert e Jonathan Edwards, John Henry Newman e Alexander Whyte, Phillips Brooks e George MacDonald, o trabalho pastoral havia sido quase completamente secularizado (exceto os domingos). Eu não gostava disso e decidira, após um período de confusão, em que me encontrava desorientado, que ser um médico de almas era mais importante do que administrar uma igreja, e que eu seria orientado em minha vocação pastoral pelos sábios predecessores e não pelos meus contemporâneos. Felizmente, encontrei aliados ao longo do caminho e a prontidão dos meus paroquianos para me ajudar a aperfeiçoar minhas tarefas pastorais.
Cumpre esclarecer que a cura das almas não é uma forma especializada de ministério (análoga, por exemplo, ao capelão de hospital ou ao conselheiro pastoral), mas a atividade pastoral por excelência. Não se trata de um estreitamento da atividade pastoral em direção aos seus aspectos devocionais, mas um modo de vida que recorre às tarefas, encontros e situações do dia-a-dia como matéria-prima do ensinamento da oração, do desenvolvimento da fé e da preparação para a morte. Curar almas é um termo que filtra aquilo que é introduzido pela cultura secular. Também é um termo que nos identifica aos nossos ancestrais e aos nossos colegas de ministério, leigos e clérigos, que estão convencidos de que uma vida de oração é o tecido de ligação entre a proclamação do dia santo e o discipulado do dia-a-dia.
Um aviso: eu costumo distinguir a cura de almas da tarefa de administrar uma igreja, mas não quero ser mal compreendido. Não me orgulho de liderar uma igreja, assim como não desprezo a importância da tarefa. Eu mesmo administro uma há mais de 20 anos. Tento fazer o meu melhor.
Eu encaro a tarefa da mesma maneira com que cuido da casa junto à minha esposa. Existem muitas coisas que fazemos cotidianamente, muitas vezes (mas nem sempre) com prazer. Mas nós não administramos uma casa; o que fazemos é construir um lar, desenvolver um matrimônio, educar as crianças, praticar a hospitalidade, exercitar uma vida de trabalho e lazer. É à redução da vida pastoral a tarefas institucionais que eu me oponho, não às tarefas em si, que eu orgulhosamente compartilho com outras pessoas na igreja.
Não será o caso, obviamente, de desafiar teimosamente as expectativas das pessoas e levar adiante de maneira excêntrica o labor pastoral, como um cura do século XVII, ainda que aquele cura pudesse ser de longe mais sensato do que o clérigo atual. O resgate deste trabalho pastoral essencial entre domingos deve ser empreendido em tensão com as expectativas secularizadas da nossa época: deve haver negociação, discussão, experimentação, confronto, adaptação. Os pastores que se dedicam à direção de almas devem realizar a tarefa no meio das pessoas que esperam que eles cuidem de uma igreja. Numa tensão determinada e afável com aqueles que nos prescrevem irrefletidamente orientações de tarefas, podemos, estou convencido disso, recuperar nosso trabalho próprio.
Não obstante, os pastores que reivindicam o vasto território da alma como sua responsabilidade preeminente, não o conseguirão indo fazer um treinamento profissional. Temos de aprender na prática, em nossa própria profissão, pois não somos apenas nós mesmos, mas também o nosso povo que estamos de-secularizando. A tarefa da recuperação vocacional é uma reforma tão teológica quanto interminável. Os detalhes variam conforme o pastor e o pároco, mas existem três áreas de contraste entre cuidar de uma igreja e a cura de almas com a qual estamos familiarizados: iniciativa, linguagem e problemas.
Iniciativa
Liderando uma igreja, eu tomo a iniciativa. Eu me adianto à função. Tomo responsabilidade pela motivação e pelo recrutamento, por mostrar o caminho, por fazer as coisas acontecerem. Caso contrário, as coisas soçobram. Tenho consciência da tendência à apatia, da suscetibilidade humana à indolência, e eu uso minha posição de liderança para evitar isso.
Em contraste, a cura de almas é uma consciência cultivada de que Deus já tomou a iniciativa. A doutrina tradicional que define esta verdade é a previdência: Deus sempre toma a iniciativa. Ele faz as coisas acontecerem. Foi e sempre dele a primeira palavra. A previdência é a convicção de que Deus trabalha diligente, estratégica e redentoramente, mesmo antes de eu aparecer em cena, mesmo antes de eu tomar consciência de que havia algo para eu fazer aqui.
A cura de almas não é indiferente às realidades da letargia humana, ingênua em relação à recalcitrância congregacional, ou desatenta à teimosia neurótica. Mas existe uma convicção determinada e disciplinada de que tudo (eu quero dizer tudo mesmo) é uma resposta à primeira palavra de Deus, ao seu ato inicial. Nós aprendemos a ficar atentos à ação divina já em andamento, de modo que o Verbo outrora inaudito de Deus seja ouvido, e o seu ato ignorado, percebido.
Perguntas relacionadas ao cuidar de uma igreja: O que faremos? Como podemos fazer as coisas funcionarem?
Perguntas relacionadas ao curar as almas: O que Deus tem feito aqui? Quais traços de graça posso discernir nesta vida? Que história de amor eu posso ler neste grupo? O que Deus colocou em movimento de modo que eu possa dar continuidade?
Nós nos equivocamos e distorcemos a realidade quando tomamos a nós mesmos como ponto de partida e nossa situação atual como o critério fundamental. Ao invés de confrontar a condição humana decaída e tomar a iniciativa de recuperá-la sem perda de tempo, nós nos voltamos à previdência divina e descobrimos como podemos fazer as coisas acontecerem no momento certo, do jeito certo.
A cura de almas exige tempo para que se leia os minutes da última reunião, na qual eu provavelmente não estava presente. Quando me detenho em uma conversa, quando me reúno com um comitê ou quando visito um lar, estou conduzindo algo que já está em processo há muito, muito tempo. Deus sempre foi e sempre será a realidade central deste processo. A convicção bíblica é de que Deus “há muito se antecipou à minha alma” (God is “long beforehand with my soul.”) Deus já tomou a iniciativa. Como alguém que chega atrasado para uma reunião, eu adentro uma situação complexa em que Deus já proferiu palavras decisivas e já tomou decisões sumamente importantes. Meu trabalho não é necessariamente anunciar isto, mas descobrir o que ele está fazendo e viver apropriadamente de acordo com isso.
Linguagem
Na igreja, eu uso uma linguagem que é descritiva e motivacional. Eu quero que as pessoas fiquem informadas para não haver mal-entendidos. E quero que as pessoas estejam motivadas para fazer as coisas acontecerem. Mas no tocante à cura das almas eu estou muito mais interessado em saber quem elas são e quem elas estão se tornando em Cristo, do que estou interessado no que elas sabem e no que estão fazendo. Neste quesito eu logo percebo que nem a linguagem descritiva nem a linguagem motivacional ajudam muito.
A linguagem descritiva é uma linguagem “sobre”, ela nomeia o que existe; orienta-nos na realidade. Ela torna possível encontrarmos nosso caminho em meio a labirintos. Nossas escolas se especializam em nos ensinar esta linguagem. A linguagem motivacional é uma linguagem “para” – ela recorre à palavra para fazer as coisas acontecerem. Comandos são transmitidos, promessas feitas, solicitações encaminhadas. Tais palavras fazem com que as pessoas façam coisas que não fariam por iniciativa própria. A indústria da propaganda é o exemplo mais hábil desta arte lingüística.
Por mais indispensáveis que sejam estas formas de linguagem, existe outra, tão essencial à humanidade quanto é fundamental para a vida da fé. Trata-se da linguagem pessoal. Através dela, recorremos às palavras para nos expressar, para conversar, para nos relacionarmos. Esta é uma linguagem “para” e “com”. O amor é oferecido e recebido, idéias são desenvolvidas, sentimentos são articulados, silêncios são honrados. É a linguagem que utilizam, espontaneamente, as crianças, os amantes, os poetas e os fiéis que rezam. Ela está expressivamente ausente quando tomamos conta de uma igreja – há tanto a se dizer e a se fazer que não sobra tempo nem ocasião para que se faça presente.
Curar almas é uma decisão de se trabalhar o coração das coisas, onde somos nós mesmos da maneira mais plena e onde nossos relacionamentos através da fé e da intimidade são desenvolvidos. A linguagem primária deve ser, portanto, “para” e “com”, a linguagem pessoal do amor e da oração. A vocação pastoral não se dá primeiramente numa escola onde os assuntos são ensinados, nem em quartéis onde forças de ataque são empregadas contra o mal (“nor in a barracks where assault forces are briefed for attacks on evil”), mas dentro da família – o lugar onde o amor é ensinado, onde se dá o nascimento, onde a intimidade é aprofundada. A tarefa pastoral consiste em adotar a linguagem apropriada para este aspecto fundamental da humanidade – não uma linguagem que descreve, nem que motiva, mas uma linguagem espontânea: queixas e exclamações, confissões e apreciações, palavras que o coração pronuncia.
Nós temos, obviamente, muito o que ensinar e muito o que fazer, mas nossa tarefa principal é ser. A linguagem fundamental da cura de almas, portanto, é a conversa e a oração. Ser pastor implica aprender a utilizar uma linguagem em que a singularidade pessoal e a santidade individual é reconhecida e respeitada. Trata-se de uma linguagem calma, sem pressa e sem pressão, tranqüila – a linguagem vagarosa dos amigos e dos amantes, que é também a linguagem da oração.
Problemas
Enquanto cuido de uma igreja, tenho que resolver problemas. Sempre que duas ou mais pessoas se juntam, os problemas aparecem. Os egos são feridos, os procedimentos se complicam, os acordos tornam-se confusos, os planos são distorcidos, os temperamentos se acirram. Existem problemas de política interna, conjugais, profissionais, familiares, emocionais. Alguém tem de interpretar, explicar, desenvolver novos planos e melhores procedimentos, organizar e administrar. A maioria dos pastores gosta de fazer isso, e eu me incluo entre eles. É gratificante ajudar a tornar macios os lugares pedregosos.
A dificuldade consiste em que os problemas surgem num fluxo tão constante que a solução acaba se tornando um trabalho de tempo integral. Por ser útil e pelo pastor geralmente conseguir fazer isso bem, não conseguimos enxergar que a vocação pastoral foi subvertida. Gabriel Marcel escreveu que a vida não é tanto um problema a ser resolvido quanto um mistério a ser explorado. Esta é certamente a mensagem bíblica: a vida não é algo que podemos martelar e moldar, deixando exatamente do jeito que queremos; ela é uma dádiva inexplicável. Estamos imersos em mistérios: o amor inacreditável, o mal enganador, a Criação, a Cruz, a Graça de Deus, Deus.
A mente secularizada se aterroriza mediante os mistérios. Então, ela faz listas, rotula as pessoas, distribui funções, resolve problemas. Mas uma vida “resolvida” é uma vida reduzida. Tais indivíduos engravatados jamais correm grandes riscos ou apresentam um discurso convincente sobre o amor. Eles negam ou ignoram os mistérios e reduzem a existência humana a algo passível de ser administrado, controlado, consertado. Vivemos um culto aos especialistas que explicam e resolvem. O vasto aparato tecnológico que nos rodeia dá a impressão de que para tudo existe uma ferramenta, que só precisamos ter condições financeiras de adquirir. Os pastores que desempenham o papel de tecnólogos espirituais têm dificuldades em evitar que este papel absorva outras coisas, já que há muitas coisas que precisam e podem, de fato, ser consertadas.
Mas “existem coisas”, escreveu Marianne Moore, “cuja importância vai além dessas ninharias”. O antigo guia de almas garante a prioridade do “além” em relação às “ninharias” do aquém. Quem está disponível para este trabalho senão os pastores? Alguns poetas, talvez; e as crianças, sempre. Mas as crianças não são bons guias, e a maioria dos nossos poetas perderam o interesse em Deus. Isto faz dos pastores os guias em direção aos mistérios. Vivemos, século após século, vivemos com a nossa consciência, nossas paixões, nossos vizinhos, e nosso Deus. Qualquer visão estreitada dos nossos relacionamentos não corresponderá à complexidade da nossa realidade humana.
Se os pastores se tornam se comprometem a tratar cada criança como um problema a ser decifrado, cada esposa como um problema que exige reconciliação e todo conflito de vontades no coro ou no comitê como um problema a ser julgado, assim nós abdicamos da parte mais importante do nosso trabalho, a saber, orientar a devoção em meio ao tráfego cotidiano, descobrir a presença da Cruz nos paradoxos e no caos de entre os domingos, chamar a atenção para o “esplendor contido no ordinário” e, acima de tudo, ensinar uma vida de oração aos nossos amigos e companheiros de peregrinação.
Eugene Peterson é pastor na Christ Our King United Presbyterian Church (Igreja Presbiteriana Unida Cristo Nosso Rei), localizada na cidade de Bel Air, em Maryland, EUA.



Passado esquecido

Apesar dos mais de 150 anos de uma história intensa da Igreja Evangélica no Brasil, memória protestante ainda é negligenciada






A rigor, a história do protestantismo no Brasil é quase tão antiga quanto a da chegada das primeiras naus portuguesas, ao raiar do século 16 – uma diferença de pouco mais de cinquenta anos entre o desembarque de Pedro Álvares Cabral e a dos protestantes franceses liderados por Nicolas Villegaignon, que fundaram a França Antártica, no litoral carioca, antes de serem expulsos. Conte-se também o período de permanência dos holandeses no Nordeste, na segunda metade dos anos 1600, quando Maurício de Nassau implantou um protetorado protestante em plena colônia portuguesa católica. Também houve a chegada dos colonos alemães luteranos, a partir de 1824. Mas, em geral, se considera a chegada do primeiro missionário evangélico – o médico escocês Robert Kalley –, em 1855, como o marco inicial da Igreja Evangélica nacional.
A partir dessa época, denominações históricas, como a congregacional, fundada por Kalley, a presbiteriana, a metodista e a batista, chegaram ao país com o objetivo de converter os brasileiros à fé cristã reformada. No entanto, parte considerável dessa trajetória, com seus avanços e percalços, ficou perdida no tempo. Isso porque a preservação da história das igrejas evangélicas no Brasil sempre foi problemática, e atualmente está limitada a algumas instituições (em geral, denominacionais) que se preocupam em resgatar tanto desse passado quanto possível. Tais iniciativas, levadas a cabo muitas vezes apesar da falta de apoio e do desinteresse das lideranças, são um facho de luz sobre as origens e a trajetória do movimento religioso que mais cresce no país.
Um desses lugares é o Centro de Memória Metodista, entidade mantida pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Ele surgiu a partir da decisão do Colégio Episcopal de preservar os arquivos e Museu Histórico do Metodismo Brasileiro. O professor Paulo Ayres Mattos, coordenador do centro, explica que o objetivo é tornar o local uma referência nacional na preservação da memória histórica da denominação, implantada no país na segunda metade do século 19, e do protestantismo brasileiro em geral. “Existe um desconhecimento geral da história da fé protestante no Brasil”, lamenta, “e do testemunho corajoso dos nossos antepassados, que enfrentaram todo tipo de perseguição. Há mesmo um desprezo pelo que Deus fez ao longo de mais de 180 anos de presença evangélica aqui”, aponta Mattos.
O professor reconhece a existência de alguns esforços isolados nesse sentido, mas acha que ainda não se faz isso de maneira organizada – o que é fato, ainda mais levando-se em consideração que poucas iniciativas utilizam os mais atuais recursos tecnológicos disponíveis no campo da arquivologia e museologia. Ele salienta que, para muitas pessoas, há um salto entre o tempo do Novo Testamento e o cristianismo brasileiro contemporâneo. “Mas, se hoje podemos testemunhar o Evangelho com liberdade, devemos isso, em grande parte, ao testemunho fiel de nossos irmãos e irmãs do passado”, lembra. O acervo do centro, que estará acessível ao público em setembro de 2010, é constituído de um grande número de documentos impressos, fotográficos, audiovisuais, eletrônicos e digitais. Nesse material é possível encontrar, por exemplo, xilogravuras de Marco Túlio Cícero do ano de 1518, além de itens raros, como o livro que reúne as obras completas de Platão, de 1538, a Bíblia traduzida por Martinho Lutero, de 1582, e as Institutas da religião cristã, de João Calvino, um dos pais da teologia reformada, datadas de 1592. No mesmo local funcionará o Museu Histórico da Igreja Metodista, com várias peças antigas e raridades.
Outra instituição que se preocupa com a conservação dos registros do passado protestante brasileiro é a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Há seis anos, foi inaugurado o Museu da Bíblia (MuBi) em Barueri, na Grande São Paulo, onde fica também o parque gráfico da editora. A linha de trabalho do museu, pela própria natureza da instituição mantenedora, é um pouco diferente: a intenção ali é apresentar a história da Bíblia Sagrada, de maneira geral. Por tabela, o MuBi conta ao visitante a história das Sagradas Escrituras no Brasil e a influência da Palavra de Deus na cultura e na vida do povo brasileiro. Para isso, a entidade, além de seu acervo fixo, promove constantemente exposições temáticas e desenvolve iniciativas educacionais.
O diretor do museu, pastor Erní Walter Seibert, ressalta a importância da preservação da história religiosa. “Tem havido um crescimento na consciência da importância de preservar a história”, opina Seibert. Ele fala que esse fenômeno está se intensificando com a celebração de jubileus entre as principais denominações e igrejas brasileiras – caso da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), que acaba de comemorar seu sesquicentenário, e da Assembleia de Deus, que em 2010 começa a festejar cem anos de atividades no país. “Essas celebrações estão propiciando a publicação de obras nas quais a história dessas organizações é registrada”, diz. De fato, a Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD) tem feito diversos lançamentos registrando e valorizando a própria trajetória. Seibert destaca a importância da criação de museus e institutos históricos para a preservação de documentos antigos, colocados à disposição de todos para consulta e pesquisa. “Isso evita a amnésia histórica, tão prejudicial em qualquer área de atividade humana.”


“Eterno retorno” – Esse trabalho de conservação não é fácil. Para formar um acervo, organizações como o MuBi dependem de doações de peças históricas e ajuda financeira para manutenção e desenvolvimento, o que inclui contratação de profissionais e serviços especializados. Parcerias entre organizações com o mesmo propósito também são importantes. A biblioteca do Museu da Bíblia, por exemplo, recebe todas as novas traduções das Escrituras produzidas no mundo. “Isso é possível porque temos parceria tanto com outras sociedades bíblicas quanto com as instituições que traduzem a Palavra de Deus pelo mundo afora”, explica Seibert. Outra dificuldade é o acesso às informações. “Localizar a documentação sobre o metodismo e o protestantismo brasileiros, em suas manifestações religiosas, educacionais e sociais espalhadas pelo país afora – e conseguir a confiança de seus atuais depositários para colocá-la à disposição do público em geral de forma organizada, com acesso fácil e rápido –, é muito complicado”, continua Paulo Ayres. Nessa lista de dificuldades, o pesquisador inclui a falta de recursos que financiem tais iniciativas. “Para isso, é importante que o projeto seja desenvolvido como parte das atividades de uma universidade, o que nos possibilitará, esperamos, acesso a recursos públicos e privados de incentivo a ações culturais”, comenta.
A questão financeira nem sempre é a mais complicada. O dinheiro pode não resolver quando um documento ou material histórico está em mãos de particulares e essa pessoa cria laços de afetividade com o material. “Esses laços afetivos, no entanto, nem sempre se transmitem para a geração seguinte, que descuida desse material e, por vezes, até o descarta, pensando que não tem valor. Isso causa uma perda irrecuperável”, destaca Erní Seibert. Para evitar esse risco, segundo ele, a recomendação é a doação de tais documentos a uma instituição séria. “Ali, o material será preservado e colocado à disposição de toda uma coletividade.”
Foi graças à doação de peças, fotos e documentos que a Igreja Evangélica Fluminense conseguiu montar um museu que é referência para muitos estudantes e pesquisadores do segmento religioso. Localizado numa sala do histórico templo da Rua Camerino, no centro antigo do Rio de Janeiro, a entidade só existe graças à perseverança e à dedicação da bibliotecária aposentada Esther Marques Monteiro, de 84 anos. Ela, que não recebe nada pelo serviço, cuida da Biblioteca Fernandes Braga, com mais de mil volumes que contêm parte da história da Igreja no Brasil. Há também objetos usados pelo pioneiro Robert Kalley, documentos e vasto material fotográfico. “Faço isso porque é importante preservar material tão rico”, diz a anciã. “Infelizmente, as igrejas não dão muito valor às nossas tradições”, constata.
No entender do bispo Mattos, os evangélicos precisam encarar com seriedade a preservação de sua documentação, estabelecendo centros encarregados de cuidar desse material. “Ao longo dos anos, o protestantismo acumulou uma importância histórica reconhecida pelos mais diversos setores da sociedade. Portanto, sem a preservação dessa cultura, estaremos sempre inclinados a cair na tentação do eterno retorno, não tendo referências que nos ajudem a afirmar nossa identidade evangélica”, diz o professor. “É preciso ajudar o povo evangélico a compreender que, sem memória, não sabemos de onde viemos.”
Conservando o presente para as gerações do futuro

Para que não se repita no futuro a dificuldade encontrada hoje em dia no resgate da memória protestante, é importante lembrar que o presente um dia também se transformará em história – por isso, é necessário registrá-lo de maneira sistemática e organizada. Fundado há quarenta anos pela iniciativa de acadêmicos e intelectuais, como Rubem Alves, o Instituto de Pesquisas da Religião (Iser) surgiu com o objetivo de investigar o papel da religião na sociedade brasileira. Com isso, tornou-se fonte de pesquisas e uma referência sobre a trajetória recente da Igreja. A antropóloga Christina Vital, pesquisadora associada da área de Religião e Sociedade do Iser, falou a CRISTIANISMO HOJE sobre o papel do instituto e a relevância de suas pesquisas:
CRISTIANISMO HOJE – Qual é o papel do Iser no registro da história da religião no Brasil?
CHRISTINA VITAL – O Iser é uma organização não-governamental de pesquisa e de intervenção em pautas que articulem religião, direitos humanos e meio ambiente. Há uma equipe de acadêmicos – pós-doutores, doutores, doutorandos e mestres – que compõe o corpo de pesquisadores associados do Iser. Temos uma série de estudos e pesquisas disponibilizados em nosso site, em nossa sede, no Rio de Janeiro, e em bibliotecas universitárias. Nestas últimas, disponibilizamos um periódico, a revista Religião e sociedade, onde são divulgados trabalhos de pesquisadores do Brasil e do exterior sobre o campo religioso nacional e internacional e sobre as diferentes formas de expressão religiosa. Parte da história da manifestação religiosa em nosso país encontra-se em nossas publicações e pesquisas.
Como contornar as falhas das igrejas na preservação de sua própria memória?
Foi-se o tempo em que as instituições e os movimentos sociais precisavam de organizações externas a eles e da universidade para registrar as suas histórias. Hoje, tanto os movimentos quanto as instituições, dentre elas as religiosas, vêm trabalhando para se apresentar à sociedade. Naturalmente, as instituições mais organizadas e com mais recursos podem contar com ajudas profissionais para registrar, resgatar e expor suas histórias e memórias para os membros novos, antigos ou mesmo para a sociedade mais ampla.
Por que a maioria das iniciativas nessa área partem de igrejas consideradas tradicionais?
As igrejas protestantes históricas têm maior tradição de estudo e de diálogo com a academia, de modo que conseguem fazer melhor essa preservação do que as igrejas pentecostais, mesmo as mais antigas. O modelo episcopal partilhado em muitas dessas igrejas históricas é, ainda, importante fator a possibilitar o resgate de uma história e a divulgação – diferentemente das congregações, que têm, muitas vezes, histórias distintas de formação e identidade própria, ainda que ligadas a uma mesma denominação.
Presbiterianos mantêm tradição centenária
É graças ao que alguns chamam “burocracia” que denominações históricas, como a batista e a presbiteriana, conservam registros importantes de seu legado à sociedade. O pastor Ludgero Bonilha Moraes, curador dos dois museus e do arquivo da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), conta que todas as decisões da denominação são arquivadas. “Desde a chegada do primeiro missionário no Brasil, são guardados documentos, atas, relatórios e fotos”, diz o religioso, que também é secretário executivo da IPB. Seu trabalho é garimpar o que há de realmente relevante para a história dos presbiterianos no material enviado pelas igrejas e avaliar que vale a pena ser guardado.
O museu mais importante da denominação, que guarda o maior acervo, está em Campinas (SP), onde também está localizado um dos seminários presbiterianos do país. A outra unidade está em Recife. Já na Catedral Presbiteriana do Rio, templo preservado pelo Patrimônio Histórico, funciona um pequeno e bem cuidado museu que narra ao visitante a história da denominação. Já do lado de fora, há uma estátua interativa do respeitado pastor Mattathias Gomes dos Santos, que liderou a congregação na primeira metade do século 20. Segundo Ludgero, a importância desses espaços é um estímulo para que as igrejas presbiterianas de todo o Brasil conservem seu material histórico. “Muitas coisas nos são enviadas para exposição”, conta o dirigente.
Por Laelie Machado
Fonte: www.cristianismohoje.com.br
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