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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Apaziguar o Irã?

Depois de Hitler, a política de apaziguar ditadores — ridicularizada como alimentar um crocodilo por Winston Churchill, na esperança de ser a última vez — parecia estar permanentemente desacreditada. Entretanto esta política tem desfrutado algum sucesso e continua hoje sendo uma viva tentação no trato com a República Islâmica do Irã.

Há muito tempo que acadêmicos têm desafiado a simples vilificação do apaziguamento. Já em 1961, A.J.P. Taylor, da Oxford, justificou os esforços de Neville Chamberlain, ao passo que Christopher Layne, do Texas A&M, presentemente sustenta que Chamberlain "fez o melhor que pôde com as cartas que tinha". Daniel Treisman, cientista político da UCLA, acha a suposição geralmente aceita contra o apaziguamento de ser "forte demais" enquanto seu colega da Universidade da Flórida, Ralph B. A. Dimuccio a chama de "simplista".
Neville Chamberlain declarou erroneamente "paz para o nosso tempo" no dia 30 de setembro de 1938.

Talvez a forma mais convincente de tratar a tese pró-apaziguamento, do historiador britânico Paul M. Kennedy, que leciona na Universidade de Yale, é a sua proposição de que o apaziguamento tem uma longa e crível história. No seu artigo de 1976, "A Tradição de Apaziguamento na política externa britânica, 1865-1939", Kennedy definiu apaziguamento como um método de resolver disputas, "admitir e saciar queixas através de negociações racionais e fazer concessões, evitando assim os horrores de guerra". Consiste numa abordagem otimista, observa ele, presumindo que os seres humanos sejam razoáveis e pacíficos.

Desde o ministério do primeiro-ministro William Gladstone até ser desacreditado no final dos anos trinta, apaziguamento era, na descrição de Kennedy, "um termo perfeitamente respeitável" e até mesmo "uma forma particularmente britânica de diplomacia", serviu bem ao caráter e circunstâncias do país. Kennedy acha que a política tem quatro bases quase-permanentes, das quais, todas se aplicam especialmente bem aos Estados Unidos de hoje:
Moral: Depois que o movimento evangélico varreu a Inglaterra no início do século XIX, a política externa britânica tinha uma forte necessidade de resolver disputas de forma razoável e não-violenta.

Econômica: Como líder do comércio mundial, o Reino Unido tinha o interesse nacional vital de evitar interrupções comerciais das quais iria sofrer de forma desproporcionada.
Estratégica: O império global britânico denotava que era super extenso (tornando-o, nos termos de Joseph Chamberlain, um "titã cansado"); conseqüentemente, tinha que escolher cuidadosamente suas batalhas, fazendo da concessão um modo rotineiro e aceitável de lidar com os problemas.

Doméstica: A extensão da área do monopólio fez da opinião pública um fator cada vez maior na sua tomada de decisões e o público não gostava de guerras, especialmente as dispendiosas.
Como resultado, durante mais de sete décadas, Londres prosseguiu, com raras exceções, com uma política externa que era "pragmática, conciliatória, e razoável". Mais uma vez e mais outra vez, as autoridades achavam que "o acordo pacífico de disputas era muito mais vantajoso para a Inglaterra do que o recurso da guerra". Em particular, o apaziguamento influenciou de maneira contínua a política britânica em relação aos Estados Unidos (por exemplo, em relação ao Canal do Panamá, as fronteiras do Alasca, a América Latina como esfera de influência dos Estados Unidos) e o império alemão (a proposta do "feriado naval", as concessões coloniais e as restrições nas relações com a França).

Kennedy julgava esta política de forma positiva, como útil no manejo das relações exteriores do estado mais poderoso do mundo durante décadas e "encapsula muitos dos melhores aspectos da tradição política britânica". Se não foi um sucesso brilhante, o apaziguamento permitiu a Londres acomodar a influência da expansão de seus rivais não-ideológicos como os Estados Unidos e a Alemanha Imperial, que em geral poderiam ser levados em conta quanto à aceitação de concessões sem ficarem inflamados. Desta forma, reduziu a velocidade do suave declínio do Reino Unido.

Porém, após 1917 e a Revolução Bolchevique, as concessões falharam em aplacar um novo tipo de inimigo, motivado ideologicamente – Hitler nos anos trinta, Brezhnev nos anos setenta, Arafat e Kim Jong-Il nos anos noventa e agora, Khamenei e Ahmadinejad. Estes ideólogos exploram as concessões e desonestamente oferecem um quid pro quo que não pretendem cumprir. Abrigando aspirações para uma hegemonia global, eles não podem ser apaziguados. Fazer concessões a eles equivale a alimentar o crocodilo.

O apaziguamento atrai nos dias de hoje a psique ocidental moderna a despeito de sua anormalidade, que surge inevitavelmente quando os estados democráticos enfrentam inimigos ideológicos agressivos. Com referência ao Irã, por exemplo, George W. Bush pode ter bravamente condenado "o falso conforto do apaziguamento, desacreditado repetidamente através da história", mas o editor Michael Rubin do Middle East Quarterly discerne corretamente as realidades da política dos Estados Unidos, "agora Bush está apaziguando o Irã".
Resumindo, a política de apaziguamento vem se estendendo por um século e meio, desfrutou algum sucesso e sempre permanece viva. Mas com inimigos ideológicos deve ser conscientemente rechaçada, para que as lições trágicas dos anos trinta, anos setenta e anos noventa não sejam ignoradas. E repetidas.
* Daniel Pipes é diretor do Fórum do Oriente Médio e colunista premiado dos jornais New York Sun e The Jerusalem Post. Este artigo foi publicado no The Jerusalem Post em 25 de setembro de 2008 e o original em inglês Appease Iran? Está também publicado no site http://pt.danielpipes.org/article/5933 Tradução de Joseph Skilnik.

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