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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Entrevista com a Missionária Aline da Mota Rebello, da Igreja Batista do Parque São Basílio

"Blogagem missionária UBE - Eu participo".
Como nasce o missionário
Conheço a Aline desde a sua infância e foi com grande alegria que tomei conhecimento de sua decisão para o ministério missionário. Bem, mas é ela quem vai contar sobre o chamado, experiência e responder a oito perguntas na entrevista que me concedeu em março deste ano.

O chamado: Na verdade, desde o meu tempo de Mensageiras do Rei quando eu estudava sobre missões e as histórias dos missionários, já sentia algo muito forte no meu coração. Lembro-me quando minha líder na época, a Evânia, dizia que sentia em seu coração que daquela organização de Mensageiras sairia uma missionária! Eu me tremia toda por dentro e falava para mim mesma que não seria eu! rsrsrs Até o dia em que tive meu chamado para missões aos 12 anos através do testemunho do missionário Miguel Zuguer. Ele havia contado sua experiência de conversão e falado da necessidade que os muçulmanos têm de conhecer a Cristo. Lembro-me dele ter feito o apelo para aqueles que também gostariam de entregar suas vidas para missões. Senti meu coração arder e ouvi claramente a voz de Deus me chamando para ser-ví-lo. Desde então, esperei o momento em que Deus iria dizer para eu sair da minha casa. Isso aconteceu aos 18 anos quando li no Jornal de Missões sobre o Projeto Radical África, que visa atingir os povos muçulmanos do Norte e Noroeste Africano. Orei a Deus e tive o desejo de participar desse projeto a fim de adquirir experiência no trabalho de evangelização com muçulmanos. E foi exatamente dentro do Projeto Radical que tive meu chamado específico para ser missionária tradutora da Bíblia através das aulas e das experiências contadas pelo missionário Rinaldo de Mattos que trabalha com a tradução da Bíblia para o povo Xerente em Tocantins há 40 anos. Fui para a África e esse chamado se confirmou ainda mais na minha vida e hoje, desejo me preparar melhor para voltar ao campo missionário e entregar toda a minha vida no trabalho de tradução da Bíblia.

Experiências: Uma das experiências mais marcantes que tive nesses quase três anos trabalhando com os africanos foi com um líder muçulmano, também conhecido como marabu, que nos pediu para que contássemos a história de Jesus, pois ele queria conhecê-lo. Sua aldeia ficava à quase 7 km de distância da nossa casa e nós íamos e voltávamos à pé todas as terças-feiras, seja debaixo de chuva ou de sol, para contar as histórias bíblicas em ordem cronológica no dialeto. Fizemos esse percurso durante um ano até chegarmos na vida de Jesus. Para um muçulmano, a maior blasfêmia que alguém pode dizer é chamar Jesus de “Filho de Deus”! Para eles, é inadmissível pensar na possibilidade de Deus ter tido um Filho, pois Ele jamais poderia ter tido relações com uma mulher pelo fato dEle ser Deus. Eles não acreditam na Bíblia que diz que ela ficou grávida pelo Espírito Santo. E após esses estudos que fizemos com esse líder muçulmano, ele chegou a confessar que cria que Jesus era o Filho de Deus! Nós ficamos muito felizes no dia em que ele fez essa declaração porque sabíamos que ele estava a um passo da conversão! Porém, algumas semanas depois, foi espalhado a notícia de que ele havia se tornado um cristão e por isso toda a sua família foi à sua aldeia para pressioná-lo a deixar de nos receber e a desistir de ouvir histórias sobre Jesus. Cremos que ele recebeu muitas ameaças e finalmente ele desistiu de ser um seguidor de Cristo! Mas sabemos que a semente foi lançada e como a Palavra de Deus diz: nosso trabalho no Senhor não é em vão! Valeu à pena o tempo em que passamos ali falando de Jesus, pois cremos que um dia essa semente irá germinar!

Aline, quantos anos você tinha quando resolveu se tornar uma missionária e ir para o campo?
Eu tinha 12 anos quando senti o chamado de Deus para trabalhar com os muçulmanos, 18 anos quando fui participar do Projeto Radical África e 19 anos quando tive o chamado específico para ser missionária tradutora da Bíblia.
Como foi o treinamento no Radical África?
Foi excelente! Fizemos um ano no CIEM (Centro Integrado de Educação e Missões) num treinamento intensivo sobre missões, evangelismo, Bíblia, antropologia, cultura africana, islamismo e etc. Nós estudávamos manhã, tarde e noite e aos fins de semana fazíamos estágios nas favelas do Rio de Janeiro. Eu trabalhei no Morro do Cantagalo em Ipanema e foi maravilhoso para mim essa experiência! Tivemos também o treinamento de sobrevivência na selva ministrado por militares que nos prepararam para enfrentarmos todo e qualquer tipo de circunstância adversa no campo.
Qual foi a sua maior dificuldade?
Minha maior dificuldade no treinamento foi o estresse, cansaço físico e mental porque o treinamento é muito intensivo e muito puxado. Eu dormia, em média, de 3 à 4 horas por dia devido os trabalhos e às atividades. Tinha dias que o que eu mais queria é poder dormir e relaxar tranquilamente!
Como foi a sua adaptação com os outros radicais?
Graças a Deus foi muito boa. Isso não significa que tenha sido perfeita, pois se nós avaliarmos dentro de nossas próprias famílias, nós temos vários conflitos, imaginem no meio de várias pessoas de famílias diferentes, estados e países diferentes com culturas totalmente diferentes! Tivemos muitos choques e conflitos que foram muito bem trabalhados pela liderança que nos possibilitaram a boa convivência e o trabalho em equipe. Às vezes acho que todas as pessoas deveriam passar pelo treinamento Radical para aprenderem a melhor lidar uns com os outros a- fim de trabalharmos unidos no Reino de Deus. Nossa divisa para o trabalho em equipe era Filipenses 2.3 e 4 que diz: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.”
Como foi sua chegada à África, como os povos de lá os receberam?
No Senegal, fomos muito bem recebidos pelos irmãos da igreja de Guédiawaye (igreja que hoje está sendo pastoreada pelo casal Humberto e Elis Chagas, missionários da JMM). Os africanos são um povo muito hospitaleiro e aonde nós chegávamos eles nos recebiam com muita alegria e carinho. Costumavam dar do seu melhor para nós!

Qual foi sua maior dificuldade relacionada à adaptação na África?
Creio que foi a língua. Aprender uma nova língua não é fácil, ainda mais quando se precisa dela para tudo! No início eu me sentia como um bebê que por mais que queira falar algo não consegue transmitir. Tinha a sensação de incapacidade, pois por mais que eu soubesse muitas coisas não conseguia transmiti-las. No aprendizado do dialeto foi a mesma coisa. Mas depois que a gente começa a entender... tudo fica mais fácil! Quanto à comida e vestimenta, graças a Deus não tive muito problema. Desde que cheguei amei as roupas africanas e consegui me acostumar bem com a culinária delas (só com relação à pimenta no Senegal e o leite estragado no Mali que não!) rsrsrs
O que mudou na sua vida depois da experiência no campo missionário?
Tudo. Hoje posso dizer que não sou mais a mesma. Minha maneira de enxergar o mundo mudou e nunca mais o verei com os mesmos olhos. Estou mais sensível para muitas coisas que antes eu não percebia. Tem coisas também que antes eu achava importante e hoje não acho mais. Coisas como, por exemplo, minha fé e meu amor por Cristo e pelas pessoas perdidas aumentaram e outras como, por exemplo, meu orgulho e meu egoísmo, que diminuíram (não que estes tenham desaparecido, pois isso nunca acontecerá... infelizmente!). Aprendi a depender mais de Deus e a viver pela fé!

Quais são seus planos daqui por diante?
Meus planos agora são de fazer o seminário teológico, pois uma vez que pretendo ser tradutora da Bíblia, preciso conhecer mais profundamente a Palavra de Deus para assim fazer a tradução correta para outro idioma. Em seguida irei para a missão ALEM que oferece o curso para tradutores da Bíblia e depois, irei para o campo missionário definitivamente junto com meu esposo.

* Orem pelos fulanis (povo com que trabalhei no Mali) para que eles conheçam a Jesus Cristo e tenham a coragem para aceitá-lo mesmo que isso implique na perca de muitas coisas.
* Orem pela minha vida e pelos meus planos para o futuro. Que Deus me guie em cada passo que eu der para que eu possa estar sempre no centro da vontade de Deus.
* Orem pela minha saúde.
* Orem pelos outros jovens que estão no campo dando continuidade ao trabalho que realizamos.
Na mesma ocasião, o Pastor Valdemir Alves da Silva, presidente da Igreja Batista do Parque São Basílio, de onde a Aline é membro, fez um relato sobre O Perfil de quem se considera Chamado para Missões, e que a seguir transcrevo:

Não há como ser de outra maneira, mas uma Igreja que procura envolver-se com missões, viver missões, fazer de missões a razão maior da sua vida após a promoção do verdadeiro culto a Deus, não há mesmo como deixar de ver surgir em seu meio jovens e não jovens que se sentem chamados para a obra missionária, quer as temporárias como as do tipo “TransBahia”, “Tenda da Esperança” ou mesmo “Radical África, América latina ou Brasil”, quer as de caráter “permanentes” como é o caso do Pr Gilberto e família. É natural que vocacionados de “outras igrejas” queiram “bater em nossas portas” em busca de ajuda as suas chamadas.É natural que uma Igreja que aprendeu a amar Gilberto, Jaqueline e suas filhas e os acompanha em Angola e que uma Igreja que se despediu de Aline, filha da mesma, enviando-a com o “Radical África” para o mundo muçulmano subsaárico - é natural que nessa Igreja haja os realmente vocacionados para missões bem como haja os que, romantizando missões, se achem vocacionados sem estar. Vamos ter de conviver com isso,isto é, com o surgimento em nosso meio daqueles que o Espírito Santo vai chamar para uma obra específica em termos de missões, como com aqueles que bem intencionados, sinceros, por razões várias se sentirão chamados sem estar sendo, por isso é preciso um critério mínimo, como um critério foi colocado pelo Apóstolo PAULO quando escreveu acerca dos que desejavam ser “epíscopos” (bispos ou pastores). No caso da nossa Igreja deve ficar esclarecido, patente que NÃO É O CONSELHO DE MISSÕES A ORGANIZAÇÃO RESPONSÁVEL NA IGREJA POR RECOMENDAR E, MUITO MENOS, POR ENVIAR QUALQUER PESSOA PARA UMA OBRA MISSIONÁRIA. O trabalho do CONSELHO é manter aceso o espírito missionário da Igreja com informações, divulgações, promoções e maneiras de levantarmos recursos em relação aos que já estão nos campos. Sem dúvida cabe ao CONSELHO se envolver sempre que um novo campo ou um novo missionário nos é apresentado como desafio como é o caso da nossa parceria com a JMN que nos levou a adotar a cidade de Cascavel no Ceará, mas não é o CONSELHO quem escolhe, quem envia ou quem recomenda “A” ou “B” para essa ou aquela atividade missionária.
Quem se sentir chamado, separado, para a obra de missões terá de escrever uma carta à Igreja falando dos seus sentimentos em relação a uma chamada e se colocando sob a observação da mesma via CORPO DIACONAL e CONSELHO ADMINISTRATIVO que farão um acompanhamento durante um período que há de variar de acordo com o candidato ou candidata (não é bom estabelecermos um período fixo pois há casos e casos), após o que, esse CORPO DIACONAL e o CONSELHO ADMINISTRATIVO, se estiverem de acordo com a recomendação, é que enviarão à Assembléia da Igreja o seu parecer favorável, cabendo a mesma endossar ou não essa recomendação. Tendo o candidato recebido o “sim” da Assembléia para se preparar,a observação continuará e também um acompanhamento em termos de problemas, de dificuldades passará a existir por parte do CORPO DIACONAL e do CONSELHO ADMINISTRATIVO.
Quais são então os quesitos a serem observados pelo CORPO DIACONAL e CONSELHO ADMINISTRATIVO em relação aos possíveis missionários durante o seu período de observação e durante a sua preparação posterior?
1. Se não casado (a), estar tendo atitudes em relação ao sexo oposto que não sejam motivos de recriminações ou críticas. Se casado, estar vivendo a vida familiar em harmonia e, claro, ter o cônjuge como pessoa que também se sente chamada para a obra missionária.
2. Relacionar-se bem com os demais membros da Igreja, mesmo os de diferentes faixas-etárias, assim como ter bom relacionamento com os vizinhos, colegas de escola ou serviço.
3. Não ter dívidas que não foram ou não estão sendo pagas, tanto com pessoas físicas quanto com pessoas jurídicas.
4. Vestir-se de forma equilibrada de modo a não causar mal-estar nas pessoas com as quais se relaciona.
5. A princípio estar envolvido (a) com as atividades da Igreja especialmente a Escola Dominical, e as que se relacionam com a evangelização e a oração. Ser um contribuinte regular tanto em relação ao dízimo quanto em relação a Missões.
6. Ser um contribuinte regular tanto em relação ao dízimo quanto em relação a Missões.
É claro que este perfil é para ser o perfil de todo e qualquer membro da Igreja, mas aos que são chamados para atividades específicas que fazem deles “vitrines” para os demais, as exigências têm de ser mais constantes. Quanto a missionários de fora, de outras Igrejas não podemos nos fechar a possibilidade de ajudá-los. É o Espírito Santo quem deve estar no controle disso, por isso sempre é possível parcerias, adoções e aí sim entra o CONSELHO DE MISSÕES, porque essas ajudas, essas adoções têm de ser oficializadas com o aval desse CONSELHO.

Jairo Costa

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