Aumento dos casos de pedofilia no país assusta a sociedade, leva ao endurecimento da legislação e desafia Igreja a uma tomada de posição.
No Rio, o animador de festas infantis Rogger Peixoto Lucas, de 40 anos, foi preso em novembro sob a acusação de usar sua atividade para aproximar-se de crianças, aliciá-las e cometer abusos sexuais. Algumas dessas crianças eram internas de um abrigo de meninas, onde ele realizava trabalho sociais. Um dia depois, foi a vez de o americano Andrew Kenneeth Grayg ser detido pela polícia fluminense. A acusação – pedofilia, praticada durante anos no seu país de origem, e a suspeita de que tenha seviciado crianças também aqui. Na semana anterior, o país horrorizou-se com uma série de crimes brutais praticados contra crianças no Paraná. Ao longo de 12 dias, quatro meninas foram mortas, não sem antes serem estupradas, por diferentes criminosos. Uma delas, a pequena Rachel Maria de Oliveira Genofre, de nove anos, foi violentada, estrangulada e teve o corpo deixado dentro de uma mala na rodoviária.
A sucessão de casos é apavorante, muitos deles com detalhes bizarros. Em Brasília, um graduado servidor do Senado Federal foi flagrado com imagens no seu computador onde aparece abusando sexualmente de bebês e crianças de até quatro anos de idade. Em São Paulo, um empresário de 32 anos abusava da própria filha de nove transmitia as cenas de sexo ao vivo, através de uma webcam, para centenas de outros pedófilos conectados ao seu programa de mensagens simultâneas.
O que acontece no país são indícios de uma verdadeira tragédia: estima-se que, a cada oito minutos, uma criança é violentada. Todos os anos, são cerca de 60 mil vítimas, segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), órgão da Presidência da República. Isso sem falar, claro, nos casos que nunca chegam ao conhecimento da polícia e da Justiça, e que podem bem chegar ao dobro disso. A maioria das vítimas, cerca de 80%, é de meninas entre dois a dez anos idade. E os abusadores quase nunca levantam suspeitas, ao contrário – como no caso do animador de festas. A situação levou o diretor do Abrigo de Meninas Leylá, no Rio, onde Rogger aliciou algumas de suas vítimas, a dar o tom exato da situação: “Jamais poderíamos imaginar que ele fazia isso. Trata-se de um lobo em pele de cordeiro.”
No país do carnaval, onde a sensualidade é tratada como commoditie brasileiro, cada vez mais a sociedade se assusta com a escalada de notícias sobre crimes sexuais contra crianças. É bem verdade que a maior parte desses abusos ocorrem no ambiente doméstico, entre pessoas da mesma família, amigos ou vizinhos. Estima-se que oito em 10 casos ocorram nestas circunstâncias. “Mas isso não é coisa de bêbado. Há muita gente boa na sociedade, inclusive com militância religiosa, envolvida em crimes de pedofilia”, diz o senador Magno Malta (PR–ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia.
Criada em março deste ano, a CPI conseguiu, após um intenso braço-de-ferro com a gigante Google, o acesso aos dados de mais de 18 mil perfis do site Orkut, que continham imagens pornográficas de crianças. Cerca de 80% das denúncias sobre pedofilia na internet referem-se ao site de relacionamentos. “O precedente foi aberto com a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta assinado pelo Google Brasil e o Ministério Público Federal na CPI da Pedofilia. Agora, eles terão de abrir as portas para outros países. Essa luta em favor da criança é uma causa mundial”, discursou o senador, que é evangélico.
Um dos objetivos da CPI alcançado recentemente, no dia 11 de novembro, foi a aprovação de um Projeto de a Lei que atualiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e prevê a tipificação de práticas que, até então, não eram consideradas crimes no Brasil. A partir da sanção presidencial e publicação no Diário Oficial da União, quem produz, reproduz, dirige, fotografa, filma, vende, adquire, armazena ou troca arquivos virtuais com pornografia infantil estará sujeito à prisão de até oito anos. Nos últimos anos, o governo federal e diversas entidades têm promovido diversas campanhas incentivando a população a denunciar casos de abusos contra crianças e adolescentes.
“Lacunas inaceitáveis” – De acordo com Thiago Tavares, presidente da Safernet, uma organização não-governamental que atua na defesa dos Direitos Humanos na internet, a aprovação da lei preenche “lacunas inaceitáveis” que consistiam numa das principais causas de impunidade em relação à pedofilia. Ele lembra que em duas grandes investidas da Polícia Federal contra a pornografia infantil na web, através das operações Carrossel 1 e 2, foram expedidos mais de 200 mandados de busca e apreensão. “E toda essa mobilização só conseguiu prender cinco pessoas. Por quê? Porque não se podia dar voz de prisão para quem apenas portava esse material. O crime era somente para casos de publicação e distribuição”, lamenta.
Fundada em dezembro de 2005, a Safernet criou a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que recebe cerca de 2, 5 mil denúncias por dia, das quais cerca de 60% são referentes à pornografia infantil. “Infelizmente, muitas crianças possuem acesso a sites de relacionamentos, ficando expostas ao assédio de pedófilos e também a sites com conteúdo impróprio para crianças”, comenta o psicólogo Rodrigo Nejm, coordenador da área de prevenção da ONG.
É justamente na rede mundial de computadores onde os crimes sexuais envolvendo crianças mais proliferam. Para se ter uma idéia, nas salas de bate-papo do portal UOL, havia uma com o título “incesto”. Mas, é nas salas de bate-papo infantil e nas redes sociais que as pequenas vítimas costumam ser aliciadas e, de forma ingênua, repassam informações pessoais para desconhecidos. “Nós sempre perguntamos durante as palestras: você deixaria seu álbum de fotografias no meio de uma praça? Sua agenda com endereços e informações pessoais? Pois é preciso saber que o Orkut também é um espaço público e pode estar sendo vasculhado por criminosos”, alerta Rodrigo.
Tavares acredita que a internet mudou o perfil das vítimas e potencializou a prática criminosa da exploração sexual infantil. “Antes, as vítimas de abusos pertenciam, em sua maioria, a classes sociais como a D e E. Com a internet, as vítimas geralmente são crianças de classe média, com acesso fácil aos computadores e com conexão banda-larga”. Ele lembra que, se há alguns anos os consumidores de pornografia infantil tinham que se associar a redes criminosas e descobrir fontes para obter vídeos e fotos, hoje ela pode, através da facilidade do mundo virtual, obter isso sem sair de casa. “Mas com as mudanças na legislação, quem obtém esse tipo de material também será criminalizado”, comenta Tavares.
Fragilidade – Os efeitos nas crianças vitimadas pela ação de pedófilos são avassaladores. “É aí que entra a importância da igreja. É lá que muitas famílias buscam ajuda”, destaca Débora Kornfield, autora do livro Vítima, sobrevivente, sofredor – Perspectivas sobre o abuso. Para a escritora, que também é missionária da organização Servindo Pastores e Líderes (Sepal), cuja editora publicou seu livro, é aí que reside um grande conflito: os líderes das igrejas geralmente não estão preparados para atender um problema tão complexo como o abuso sexual infantil. Para tentar dar respostas a este problema, ela ajudou a criar grupos de apoio às vítimas de abuso sexual nas igrejas evangélicas. “É necessário que os líderes desses grupos tenham um grande equilíbrio emocional e sejam dignos de confiança. As vítimas estão muito fragilizadas, seja pela circunstância atual ou mesmo por uma dolorosa recordação do passado”.
Seu envolvimento com tema começou quando se preparava para a conclusão de seu curso de pós-graduação em Assessoramento Familiar. “Em três meses, recebi 17 mulheres de igrejas evangélicas, que me relataram histórias de abusos na infância”. Foi quando se deu conta do tamanho do problema, que castigava também famílias evangélicas. “Muitos abusos tinham suas origens até mesmo dentro do ambiente das igrejas e com a família de líderes cristãos”, destaca. Débora também ouviu o outro lado, o do abusador. “Conheci um rapaz que, na adolescência, havia abusado de crianças. Ele jamais havia contado isso para ninguém, nem mesmo para sua mulher. Um dia, ele teve um colapso nervoso e precisou ser internado num hospital psiquiátrico. A culpa era intensa e, só após esse episódio, ele contou sua história”.
Mas as maiores marcas ficam mesmo nas pequenas vítimas. Que o diga a pedagoga evangélica Marisa Mello Mendes, vítima de abuso pelo próprio pai, quando tinha 11 anos. “Durante muitos anos, associei a imagem do pai como a sendo de um violentador. Foi quando Deus se revelou a mim como Pai, curando minhas feridas. É isso que procuro repassar para as crianças e jovens que nos procuram todos os dias”. Ela se refere à instituição que dirige, a Parábola, que funciona na cidade de São Paulo. A entidade é premiada internacionalmente e reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por seu trabalho junto a jovens e crianças vitimas da violência. “São cerca de duas mil crianças atendidas todos os anos, e oitenta por cento delas têm histórico de violência sexual.”
Marisa analisa os caminhos trilhados pelas vítimas: “Podem se tornar extremamente tímidas, ter problemas com obesidade, tendências depressivas e comportamento apático. Por outro lado, podem se tornar agressivas, desenvolver compulsão sexual e reproduzir a violência sofrida.” Marisa garante que, em 20 anos de experiência com casos de abusos de crianças, nunca encontrou um agressor sexual que não tenha sofrido a mesma violência na infância ou juventude.
Do carinho ao abuso – Combater o crime sexual contra crianças e adolescentes ou identificar um possível caso de abuso é uma tarefa árdua. Isso porque o tema ainda é tratado como tabu, e apenas uma fração dos casos chega a ser denunciada. “A dificuldade de identificar um agressor sexual é que, muitas vezes, ele é um sujeito comum e acima de qualquer suspeita. Por isso, é preciso dedicar atenção às crianças, perceber mais do que ela demonstra”, explica a psicóloga e pastora evangélica Télcia Lamônica de Azevedo Oliveira, coordenadora do projeto Sentinela, de Londrina (PR). A dica, segundo ela, vale tanto para os contatos virtuais como os físicos. “A gente explica, na linguagem da criança, o que é um carinho, um abraço. Mas quando o adulto começa a passar a mão pelo corpo da criança ou pedir que ela tire a roupa, isso já passa a ser abusivo”.
O Sentinela é um programa federal que, em parceria com os municípios, desenvolve ações de prevenção e assistência às crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Para a pastora, que coordena também o Núcleo Social Evangélico de Londrina (Nuselon), ligado a Igreja Casa de Oração para Todos os Povos – Ministério Sagradas Missões, é preciso de um envolvimento maior dos evangélicos acerca dessa “cruel realidade brasileira”. “Muitos chegam às igrejas com um histórico de violência sexual na infância, mas não são poucos os casos de abusos que acontecem através de agressores ditos evangélicos”, aponta. A escalada de crimes sexuais contra crianças demonstra bem o tamanho do desafio para a sociedade e a Igreja.
Longa história de abusos - Logo após ser preso, há dez anos, por ter filmado, fotografado e mantido relações sexuais com crianças, o biólogo Leonardo Chain, que trabalhava como instrutor de acampamentos para crianças, defendeu-se de maneira insólita: “Na Grécia Antiga, a pedofilia era comum. Platão nunca foi condenado pelo que eu fiz”. O bizarro é que ele tinha razão. Tão antigo quanto a humanidade, o uso de menores para satisfação sexual de adultos foi um costume tolerado e até mesmo incentivado na Grécia e no Império Romano. Na China, durante milênios, castrar meninos e vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legalizado. Conta-se até que Maomé, o profeta do Islã, tinha 53 anos quando casou-se com uma menina de apenas oito. Em casas européias de prostituição, eram celebres os leilões de meninas virgens que, depois de suas primeiras experiências sexuais, eram colocadas para viver nos prostíbulos. Os termos “meninas” ou “raparigas” denotam bem a idade precoce das prostitutas.
No mundo da literatura, o flerte entre arte e sedução muitas vezes saía da mera ficção. O escritor inglês Lewis Carrol (1862-1898), autor de Alice no País das Maravilhas, inspirou-se numa garotinha de 4 anos, chamada Alicia Lidll. O assédio dele pela menina era tão intenso que os pais da criança o proibiram de aproximar-se da filha. Já o romance Lolita, do russo Vladmir Nabokov (1899-1977), retrata a história de um padrasto europeu que se apaixonou pela enteada adolescente. Mais recentemente, o cineasta polonês Roman Polanski admitiu ter feito sexo com uma menina de 13 anos, quase trinta anos mais jovem que ele. Desde então, Polanski é considerado foragido pela polícia norte-americana.
Em artigo publicado pelo jornal carioca O Globo, o filósofo Olavo de Carvalho escreveu que “por toda parte onde a prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo – e praticamente ela só – que libertou as crianças desse jugo temível”.
Mundo perdido - Se no Brasil os pedófilos se esgueiram entre as conexões de internet e muitos casos envolvem raptos seguido de abusos contra crianças, em países como os Estados Unidos e a Holanda eles chegam a se organizar oficialmente. Na América, há uma associação gay conhecida como North American Man and Boy Love Association, a Nambla, cuja tradução literal já explicita as intenções: “Associação do amor entre homem e garoto”. A entidade conta com o apoio de intelectuais, como a polêmica escritora Camille Paglia, e já teve seus membros denunciados por participação em redes de pedofilias internacionais.
Na Holanda, a coisa vai além. Homologado pelo Tribunal Internacional de Haia em 2006, um grupo fundou um partido político assumidamente pedófilo. Com o singelo nome de Partido Para o Amor Fraternal, Liberdade e Diversidade, a primeira meta proposta pelos pedófilos é apresentar um projeto legislativo que autorize crianças de 12 anos a manterem relações sexuais com adultos.
A sucessão de casos é apavorante, muitos deles com detalhes bizarros. Em Brasília, um graduado servidor do Senado Federal foi flagrado com imagens no seu computador onde aparece abusando sexualmente de bebês e crianças de até quatro anos de idade. Em São Paulo, um empresário de 32 anos abusava da própria filha de nove transmitia as cenas de sexo ao vivo, através de uma webcam, para centenas de outros pedófilos conectados ao seu programa de mensagens simultâneas.
O que acontece no país são indícios de uma verdadeira tragédia: estima-se que, a cada oito minutos, uma criança é violentada. Todos os anos, são cerca de 60 mil vítimas, segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), órgão da Presidência da República. Isso sem falar, claro, nos casos que nunca chegam ao conhecimento da polícia e da Justiça, e que podem bem chegar ao dobro disso. A maioria das vítimas, cerca de 80%, é de meninas entre dois a dez anos idade. E os abusadores quase nunca levantam suspeitas, ao contrário – como no caso do animador de festas. A situação levou o diretor do Abrigo de Meninas Leylá, no Rio, onde Rogger aliciou algumas de suas vítimas, a dar o tom exato da situação: “Jamais poderíamos imaginar que ele fazia isso. Trata-se de um lobo em pele de cordeiro.”
No país do carnaval, onde a sensualidade é tratada como commoditie brasileiro, cada vez mais a sociedade se assusta com a escalada de notícias sobre crimes sexuais contra crianças. É bem verdade que a maior parte desses abusos ocorrem no ambiente doméstico, entre pessoas da mesma família, amigos ou vizinhos. Estima-se que oito em 10 casos ocorram nestas circunstâncias. “Mas isso não é coisa de bêbado. Há muita gente boa na sociedade, inclusive com militância religiosa, envolvida em crimes de pedofilia”, diz o senador Magno Malta (PR–ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia.
Criada em março deste ano, a CPI conseguiu, após um intenso braço-de-ferro com a gigante Google, o acesso aos dados de mais de 18 mil perfis do site Orkut, que continham imagens pornográficas de crianças. Cerca de 80% das denúncias sobre pedofilia na internet referem-se ao site de relacionamentos. “O precedente foi aberto com a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta assinado pelo Google Brasil e o Ministério Público Federal na CPI da Pedofilia. Agora, eles terão de abrir as portas para outros países. Essa luta em favor da criança é uma causa mundial”, discursou o senador, que é evangélico.
Um dos objetivos da CPI alcançado recentemente, no dia 11 de novembro, foi a aprovação de um Projeto de a Lei que atualiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e prevê a tipificação de práticas que, até então, não eram consideradas crimes no Brasil. A partir da sanção presidencial e publicação no Diário Oficial da União, quem produz, reproduz, dirige, fotografa, filma, vende, adquire, armazena ou troca arquivos virtuais com pornografia infantil estará sujeito à prisão de até oito anos. Nos últimos anos, o governo federal e diversas entidades têm promovido diversas campanhas incentivando a população a denunciar casos de abusos contra crianças e adolescentes.
“Lacunas inaceitáveis” – De acordo com Thiago Tavares, presidente da Safernet, uma organização não-governamental que atua na defesa dos Direitos Humanos na internet, a aprovação da lei preenche “lacunas inaceitáveis” que consistiam numa das principais causas de impunidade em relação à pedofilia. Ele lembra que em duas grandes investidas da Polícia Federal contra a pornografia infantil na web, através das operações Carrossel 1 e 2, foram expedidos mais de 200 mandados de busca e apreensão. “E toda essa mobilização só conseguiu prender cinco pessoas. Por quê? Porque não se podia dar voz de prisão para quem apenas portava esse material. O crime era somente para casos de publicação e distribuição”, lamenta.
Fundada em dezembro de 2005, a Safernet criou a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que recebe cerca de 2, 5 mil denúncias por dia, das quais cerca de 60% são referentes à pornografia infantil. “Infelizmente, muitas crianças possuem acesso a sites de relacionamentos, ficando expostas ao assédio de pedófilos e também a sites com conteúdo impróprio para crianças”, comenta o psicólogo Rodrigo Nejm, coordenador da área de prevenção da ONG.
É justamente na rede mundial de computadores onde os crimes sexuais envolvendo crianças mais proliferam. Para se ter uma idéia, nas salas de bate-papo do portal UOL, havia uma com o título “incesto”. Mas, é nas salas de bate-papo infantil e nas redes sociais que as pequenas vítimas costumam ser aliciadas e, de forma ingênua, repassam informações pessoais para desconhecidos. “Nós sempre perguntamos durante as palestras: você deixaria seu álbum de fotografias no meio de uma praça? Sua agenda com endereços e informações pessoais? Pois é preciso saber que o Orkut também é um espaço público e pode estar sendo vasculhado por criminosos”, alerta Rodrigo.
Tavares acredita que a internet mudou o perfil das vítimas e potencializou a prática criminosa da exploração sexual infantil. “Antes, as vítimas de abusos pertenciam, em sua maioria, a classes sociais como a D e E. Com a internet, as vítimas geralmente são crianças de classe média, com acesso fácil aos computadores e com conexão banda-larga”. Ele lembra que, se há alguns anos os consumidores de pornografia infantil tinham que se associar a redes criminosas e descobrir fontes para obter vídeos e fotos, hoje ela pode, através da facilidade do mundo virtual, obter isso sem sair de casa. “Mas com as mudanças na legislação, quem obtém esse tipo de material também será criminalizado”, comenta Tavares.
Fragilidade – Os efeitos nas crianças vitimadas pela ação de pedófilos são avassaladores. “É aí que entra a importância da igreja. É lá que muitas famílias buscam ajuda”, destaca Débora Kornfield, autora do livro Vítima, sobrevivente, sofredor – Perspectivas sobre o abuso. Para a escritora, que também é missionária da organização Servindo Pastores e Líderes (Sepal), cuja editora publicou seu livro, é aí que reside um grande conflito: os líderes das igrejas geralmente não estão preparados para atender um problema tão complexo como o abuso sexual infantil. Para tentar dar respostas a este problema, ela ajudou a criar grupos de apoio às vítimas de abuso sexual nas igrejas evangélicas. “É necessário que os líderes desses grupos tenham um grande equilíbrio emocional e sejam dignos de confiança. As vítimas estão muito fragilizadas, seja pela circunstância atual ou mesmo por uma dolorosa recordação do passado”.
Seu envolvimento com tema começou quando se preparava para a conclusão de seu curso de pós-graduação em Assessoramento Familiar. “Em três meses, recebi 17 mulheres de igrejas evangélicas, que me relataram histórias de abusos na infância”. Foi quando se deu conta do tamanho do problema, que castigava também famílias evangélicas. “Muitos abusos tinham suas origens até mesmo dentro do ambiente das igrejas e com a família de líderes cristãos”, destaca. Débora também ouviu o outro lado, o do abusador. “Conheci um rapaz que, na adolescência, havia abusado de crianças. Ele jamais havia contado isso para ninguém, nem mesmo para sua mulher. Um dia, ele teve um colapso nervoso e precisou ser internado num hospital psiquiátrico. A culpa era intensa e, só após esse episódio, ele contou sua história”.
Mas as maiores marcas ficam mesmo nas pequenas vítimas. Que o diga a pedagoga evangélica Marisa Mello Mendes, vítima de abuso pelo próprio pai, quando tinha 11 anos. “Durante muitos anos, associei a imagem do pai como a sendo de um violentador. Foi quando Deus se revelou a mim como Pai, curando minhas feridas. É isso que procuro repassar para as crianças e jovens que nos procuram todos os dias”. Ela se refere à instituição que dirige, a Parábola, que funciona na cidade de São Paulo. A entidade é premiada internacionalmente e reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por seu trabalho junto a jovens e crianças vitimas da violência. “São cerca de duas mil crianças atendidas todos os anos, e oitenta por cento delas têm histórico de violência sexual.”
Marisa analisa os caminhos trilhados pelas vítimas: “Podem se tornar extremamente tímidas, ter problemas com obesidade, tendências depressivas e comportamento apático. Por outro lado, podem se tornar agressivas, desenvolver compulsão sexual e reproduzir a violência sofrida.” Marisa garante que, em 20 anos de experiência com casos de abusos de crianças, nunca encontrou um agressor sexual que não tenha sofrido a mesma violência na infância ou juventude.
Do carinho ao abuso – Combater o crime sexual contra crianças e adolescentes ou identificar um possível caso de abuso é uma tarefa árdua. Isso porque o tema ainda é tratado como tabu, e apenas uma fração dos casos chega a ser denunciada. “A dificuldade de identificar um agressor sexual é que, muitas vezes, ele é um sujeito comum e acima de qualquer suspeita. Por isso, é preciso dedicar atenção às crianças, perceber mais do que ela demonstra”, explica a psicóloga e pastora evangélica Télcia Lamônica de Azevedo Oliveira, coordenadora do projeto Sentinela, de Londrina (PR). A dica, segundo ela, vale tanto para os contatos virtuais como os físicos. “A gente explica, na linguagem da criança, o que é um carinho, um abraço. Mas quando o adulto começa a passar a mão pelo corpo da criança ou pedir que ela tire a roupa, isso já passa a ser abusivo”.
O Sentinela é um programa federal que, em parceria com os municípios, desenvolve ações de prevenção e assistência às crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Para a pastora, que coordena também o Núcleo Social Evangélico de Londrina (Nuselon), ligado a Igreja Casa de Oração para Todos os Povos – Ministério Sagradas Missões, é preciso de um envolvimento maior dos evangélicos acerca dessa “cruel realidade brasileira”. “Muitos chegam às igrejas com um histórico de violência sexual na infância, mas não são poucos os casos de abusos que acontecem através de agressores ditos evangélicos”, aponta. A escalada de crimes sexuais contra crianças demonstra bem o tamanho do desafio para a sociedade e a Igreja.
Longa história de abusos - Logo após ser preso, há dez anos, por ter filmado, fotografado e mantido relações sexuais com crianças, o biólogo Leonardo Chain, que trabalhava como instrutor de acampamentos para crianças, defendeu-se de maneira insólita: “Na Grécia Antiga, a pedofilia era comum. Platão nunca foi condenado pelo que eu fiz”. O bizarro é que ele tinha razão. Tão antigo quanto a humanidade, o uso de menores para satisfação sexual de adultos foi um costume tolerado e até mesmo incentivado na Grécia e no Império Romano. Na China, durante milênios, castrar meninos e vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legalizado. Conta-se até que Maomé, o profeta do Islã, tinha 53 anos quando casou-se com uma menina de apenas oito. Em casas européias de prostituição, eram celebres os leilões de meninas virgens que, depois de suas primeiras experiências sexuais, eram colocadas para viver nos prostíbulos. Os termos “meninas” ou “raparigas” denotam bem a idade precoce das prostitutas.
No mundo da literatura, o flerte entre arte e sedução muitas vezes saía da mera ficção. O escritor inglês Lewis Carrol (1862-1898), autor de Alice no País das Maravilhas, inspirou-se numa garotinha de 4 anos, chamada Alicia Lidll. O assédio dele pela menina era tão intenso que os pais da criança o proibiram de aproximar-se da filha. Já o romance Lolita, do russo Vladmir Nabokov (1899-1977), retrata a história de um padrasto europeu que se apaixonou pela enteada adolescente. Mais recentemente, o cineasta polonês Roman Polanski admitiu ter feito sexo com uma menina de 13 anos, quase trinta anos mais jovem que ele. Desde então, Polanski é considerado foragido pela polícia norte-americana.
Em artigo publicado pelo jornal carioca O Globo, o filósofo Olavo de Carvalho escreveu que “por toda parte onde a prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo – e praticamente ela só – que libertou as crianças desse jugo temível”.
Mundo perdido - Se no Brasil os pedófilos se esgueiram entre as conexões de internet e muitos casos envolvem raptos seguido de abusos contra crianças, em países como os Estados Unidos e a Holanda eles chegam a se organizar oficialmente. Na América, há uma associação gay conhecida como North American Man and Boy Love Association, a Nambla, cuja tradução literal já explicita as intenções: “Associação do amor entre homem e garoto”. A entidade conta com o apoio de intelectuais, como a polêmica escritora Camille Paglia, e já teve seus membros denunciados por participação em redes de pedofilias internacionais.
Na Holanda, a coisa vai além. Homologado pelo Tribunal Internacional de Haia em 2006, um grupo fundou um partido político assumidamente pedófilo. Com o singelo nome de Partido Para o Amor Fraternal, Liberdade e Diversidade, a primeira meta proposta pelos pedófilos é apresentar um projeto legislativo que autorize crianças de 12 anos a manterem relações sexuais com adultos.
Fonte: Cristianismo Hoje
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