Vício em drogas como a cocaína e a nicotina, obesidade e pressão alta. Eis alguns dos maiores assassinos do século 21. Saiba como pesquisadores de todo o mundo lutam para descobrir as vacinas que poderão acabar com eles
Jim Giles
Jim Giles
Quatro anos atrás, um grupo de usuários de drogas apareceu na Escola de Medicina de Yale. A maioria deles era dependente do crack, droga derivada do refinamento da cocaína e altamente viciante. E todos queriam se livrar dela.
"Eles vieram até nós porque suas vidas estavam destruídas", afirma Thomas Kosten, especialista em drogas que trabalhou com esses usuários e que atualmente está na Faculdade Baylor da Universidade de Medicina de Houston (EUA).
As chances não estavam a favor daqueles dependentes. Mais de dois milhões de americanos consomem alguma forma de cocaína regularmente, e a maioria acha extremamente difícil largar o hábito. Mesmo se um viciado ficar longe das drogas por alguns meses, só uma pequena dose, em um momento de fraqueza, desperta o desejo novamente.
Os usuários de cocaína que se inscreveram para a pesquisa de Kosten também tiveram seus momentos de fraqueza. Para uns poucos deles, entretanto, algo de extraordinário aconteceu quando cheiraram ou injetaram a droga: ela não teve efeito algum.
Kosten havia vacinado os voluntários contra cocaína. Anticorpos estavam circulando por suas correntes sanguíneas, prontos para neutralizar as moléculas da droga. O grupo estava protegido contra a cocaína da mesma forma que as imunizações tomadas na infância protegem boa parte do mundo contra a pólio e o sarampo. E, com a ajuda da vacina, vários dependentes estavam livres da droga antes do experimento terminar.
As vacinas são um dos medicamentos mais bem-sucedidos. Sem elas você talvez não estivesse aqui para ler este texto, já que seus ancestrais poderiam ter sido mortos por doenças como a varíola. Agora a esperança é que essa tecnologia possa também tratar enfermidades modernas. E não apenas drogas que viciam. Obesidade e pressão alta são outras condições nas quais as inoculações podem ser usadas como tratamento. Se defensores dessa idéia estiverem certos, o trabalho de Kosten é apenas um exemplo do que será a segunda revolução das vacinas. Mas ela pode não chegar na velocidade necessária.
No caso da dependência, tratamentos como terapia comportamental são caros e às vezes não fazem muita diferença. O cigarro é um dos grandes assassinos do mundo. Enquanto isso, a obesidade atingiu proporções de epidemia nos Estados Unidos e está aumentando mundialmente. As vacinas oferecem uma abordagem completamente diferente para esses problemas: elas levam o corpo a produzir anticorpos que se unam a substâncias específicas, neutralizando-as.
Quase todas as drogas, entretanto, consistem de moléculas muito pequenas para iniciarem uma reação imune. Portanto, um pouco de trapaça é necessária. Para aumentar o tamanho delas Kosten juntou dez partículas de cocaína à superfície de uma proteína da cólera. A vacinação com essa "megacocaína" estimula a produção de anticorpos, que se juntam tanto às moléculas da droga quanto às grandes partículas sintéticas.
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"Eles vieram até nós porque suas vidas estavam destruídas", afirma Thomas Kosten, especialista em drogas que trabalhou com esses usuários e que atualmente está na Faculdade Baylor da Universidade de Medicina de Houston (EUA).
As chances não estavam a favor daqueles dependentes. Mais de dois milhões de americanos consomem alguma forma de cocaína regularmente, e a maioria acha extremamente difícil largar o hábito. Mesmo se um viciado ficar longe das drogas por alguns meses, só uma pequena dose, em um momento de fraqueza, desperta o desejo novamente.
Os usuários de cocaína que se inscreveram para a pesquisa de Kosten também tiveram seus momentos de fraqueza. Para uns poucos deles, entretanto, algo de extraordinário aconteceu quando cheiraram ou injetaram a droga: ela não teve efeito algum.
Kosten havia vacinado os voluntários contra cocaína. Anticorpos estavam circulando por suas correntes sanguíneas, prontos para neutralizar as moléculas da droga. O grupo estava protegido contra a cocaína da mesma forma que as imunizações tomadas na infância protegem boa parte do mundo contra a pólio e o sarampo. E, com a ajuda da vacina, vários dependentes estavam livres da droga antes do experimento terminar.
As vacinas são um dos medicamentos mais bem-sucedidos. Sem elas você talvez não estivesse aqui para ler este texto, já que seus ancestrais poderiam ter sido mortos por doenças como a varíola. Agora a esperança é que essa tecnologia possa também tratar enfermidades modernas. E não apenas drogas que viciam. Obesidade e pressão alta são outras condições nas quais as inoculações podem ser usadas como tratamento. Se defensores dessa idéia estiverem certos, o trabalho de Kosten é apenas um exemplo do que será a segunda revolução das vacinas. Mas ela pode não chegar na velocidade necessária.
No caso da dependência, tratamentos como terapia comportamental são caros e às vezes não fazem muita diferença. O cigarro é um dos grandes assassinos do mundo. Enquanto isso, a obesidade atingiu proporções de epidemia nos Estados Unidos e está aumentando mundialmente. As vacinas oferecem uma abordagem completamente diferente para esses problemas: elas levam o corpo a produzir anticorpos que se unam a substâncias específicas, neutralizando-as.
Quase todas as drogas, entretanto, consistem de moléculas muito pequenas para iniciarem uma reação imune. Portanto, um pouco de trapaça é necessária. Para aumentar o tamanho delas Kosten juntou dez partículas de cocaína à superfície de uma proteína da cólera. A vacinação com essa "megacocaína" estimula a produção de anticorpos, que se juntam tanto às moléculas da droga quanto às grandes partículas sintéticas.
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Fonte: www.revistagalileu.globo.com
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