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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Antes, cuida da tua casa e de ti mesmo

Dois textos da pré-reflexão para o IV Encontro de Líderes no Sertão, evento cristão que acontece na cidade de Itaporanga, na Paraíba, de 19 a 22 de outubro, podem servir também como edificação para lideranças de outras partes do país. Num deles, o pastor André Luiz Ferreira, da paraibana São João do Rio Peixe, fala sobre o tema: “Ouvindo o clamor do mundo e esquecendo o clamor da alma”. No outro, Karla Muniz Barreto Oton fala sobre a importância do cuidar: “Amar ao próximo como a si mesmo é cuidar de si, é deixar-se ser cuidado, é dar acesso ao Espírito de Deus e ao próximo para tocar em feridas ainda não cicatrizadas”.


“Ouvindo o clamor do mundo e esquecendo o clamor da alma”
André Luiz Ferreira

Estamos diante de um grande desafio: “O clamor do Mundo” conforme relata muito bem Oswald Smith, em seu sensacional livro. Como pastor-missionário, como igreja brasileira, como crentes no Senhor Jesus devemos nos preocupar com aqueles que estão longe de Cristo Jesus. E muitas vezes no anseio de alcançarmos o perdido esquecemos o “clamor da alma e o clamor da família”.

Estou há 6 anos no sertão paraibano, uma região carente do evangelho de Cristo, e acabei vivendo uma tensão entre ouvir o clamor do sertanejo, o clamor da alma e o clamor da família. Ouvi tanto o clamor do sertanejo que me esqueci de cuidar de mim, de cuidar da família, comecei a ter uma visão míope e paternalista do clamor do mundo.

E quando se começa a ter uma visão míope e paternalista do clamor do mundo nos tornamos pessoas amargas, isoladas, impacientes de esperar o tempo de Deus, mocas (surdas), não dando ouvidos àqueles que estão de “fora” (líderes amados – ainda bem que tenho, amigos e familiares) e suscetíveis à ação do maligno. E foi isto que aconteceu comigo. Apesar de amar a Deus, à Sua Obra e me dedicar totalmente a Ele, comecei a dar brechas para o inimigo de nossas almas e esquecendo o clamor da alma e de cuidar de mim mesmo.

E graças à misericórdia e ao amor do Senhor, conforme Efésios 2:4 – “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou”, Ele abriu os meus olhos espirituais para realmente ver o clamor do mundo e também o clamor da minha alma e da minha família.

Não estou dizendo que devemos cruzar os braços diante do clamor do mundo, mas não podemos esquecer de nós mesmos e de nossos familiares, pois o diabo pode usar o seu amor à Obra de Deus para destruí-lo.

Então algo que é primordial e necessário na vida do pastor, missionário, líder é cuidar de si mesmo, para depois cuidar do clamor do mundo; é ter um relacionamento profundo com Deus de oração e jejum, é ter tempo de refrigério da alma, é ter tempo de curtir e cuidar da família, é ter tempo para ouvir a voz de Deus.

Itaporanga, pedra-bonita em tupi-guarani, tem sido um lugar de refrigério e cura de líderes. Lá foi o meu “Vale de Jaboque”. Deus tem usado os pastores Pedro e Sueli, neste processo e não poderia haver lugar melhor e merecido para a realização do IV Encontro de Pastores e Líderes no Sertão - “Antes, cuida de ti mesmo e de tua casa”. Portanto, gostaria de convidar você a estar lá conosco, pois creio que você passará por um “exame oftálmico espiritual” e poderá enxergar melhor o “clamor do mundo”, cuidando de ti mesmo e de tua casa. No amor do Eterno, Pr. André Luiz Ferreira, de São João do Rio Peixe, PB.


O significado do cuidar
Karla Muniz Barreto Oton

Falar sobre o cuidar é, sobretudo, fazer uma reflexão do lugar onde se mora, onde se constrói as relações mais íntimas e complexas do ser, onde se recebe os primeiros cuidados - a família.

A família é ainda o lugar onde se constrói identidades, estruturas emocionais, vínculos eternos. É onde é possível tocar, preocupar-se e envolver-se afetivamente, um compromisso emocional que acarreta responsabilidade prazerosa, espontânea e plena. Quem foi cuidado nesses termos geralmente cuidará de outros, dando continuidade nesse processo consigo mesmo em sua caminhada.

A palavra cuidado, segundo os clássicos de filologia, deriva do latim cura, que se escrevia coera e era usada em condições de amor e de amizade. Expressava, portanto, uma atitude de cuidado, preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou objeto de estimação. Esse cuidado existe apenas quando se atribui valor e importância. É o aconchego da alma, o mimo que se precisa para olhar para si e para o outro com ternura.

Cuidar é um princípio que deve nortear a vida, que marca pessoas, que traz esperança. Rollo May, falando acerca do cuidado, disse que somente ele nos permitiria resistir ao cinismo e à apatia que nos cercam hoje. Estamos vivenciando situações onde é “cada um por si e Deus por todos”... Na família, cada um possui sua TV, seu PC, sua denominação; na igreja, os relacionamentos se limitam ao momento do culto; no trabalho, se mantém uma postura individualista, devido à competição; em todos os setores a sociedade vive uma superficialidade assustadora que desumaniza e embrutece as relações.

Se olharmos para os ensinamentos do Senhor Jesus, podemos perceber que Seu cuidado foi muito além, excedeu a si próprio, à sua família e aos seus discípulos. Estendeu-se àqueles que eram desprezados, aos enfermos, aos excluídos, para aqueles que não tinham ninguém a ouvir seus gemidos, ou alguém para estender a mão e colocá-los em um tanque para serem curados. Muitas vezes, seus discípulos, apesar de andarem com Ele, eram ainda indiferentes e insensíveis às necessidades do próximo, e repreenderam pessoas como aquele homem que gritava: “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim”. Eles não compreendiam que a misericórdia (cuidado) do Mestre excedia aos preconceitos, tabus, legalismos, superficialidades, descaso e até mesmo a lei. Leonardo Boff, enfatizando que Jesus fez da misericórdia a sua ética.

Madre Teresa, ao deixar o convento para cuidar dos mais pobres, disse: “Dá Cristo ao mundo, não o mantenhas para si e ao fazê-lo, usa tuas mãos”, “a mão que toca cura porque leva amor, carinho, afeto, devolve a confiança, oferece acolhida e manifesta cuidado, renascendo a humanidade perdida”.

Amar ao próximo como a si mesmo é cuidar de si, é deixar-se ser cuidado, é dar acesso ao Espírito de Deus e ao próximo para tocar em feridas ainda não cicatrizadas, tais como debilidades, pecados, tendências, medos, segredos. Nesse exercício de humildade, as traves do nosso olho já tão insensível começam a ser retiradas, para só então nos vermos e vivermos em plenitude, e assim retirar o argueiro daqueles que nos cercam, cuidando com-paixão para que vejam plenamente o Mestre do Amor. Lembramos-nos ainda que Jesus veio para os doentes, portanto somente estes serão por Ele cuidados para assim cuidarem plenamente da sua casa.



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