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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Pra mim, isso não era crime: era meu mundo, eu vivia assim", diz depoente presa por agenciar menores

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia nesta terça-feira (12), a moradora de Boa Vista (RR) Lidiane do Nascimento Foo, 25 anos, afirmou aos senadores que "levava meninas" entre 12 e 17 anos para terem encontros com o ex-procurador-geral de Roraima Luciano Queiroz e outros indiciados pela Operação Arcanjo da Polícia Federal, que investigou denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes no estado. Lidiane disse que ela mesma, a partir dos 11 anos de idade, teve relacionamentos com o ex-procurador e com outros denunciados pela PF.
O presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES), garantiu que intercederá junto ao Ministério da Justiça para garantir que Lidiane seja resguardada pelo Programa de Proteção à Testemunha, da Secretaria de Direitos Humanos do ministério, pois, como ela mesmo disse, já sofreu várias ameaças de morte, por parte inclusive do próprio ex-procurador de Roraima. De acordo com Magno Malta e com o relator da CPI, Demóstenes Torres (DEM-GO), um dos presos pela PF foi solto nesta terça-feira (12) e, segundo Lidiane o empresário José Queiroz da Silva, conhecido como Carola, também já fez ameaças contra ela.
Além de Lidiane e seu marido Givanildo dos Santos Castro, a Operação Arcanjo também prendeu em junho deste ano o agora ex-procurador de Roraima Luciano Alves de Queiroz, os empresários José Queiroz da Silva e Valdivino Queiroz da Silva, o major da Polícia Militar Raimundo Ferreira Gomes (cunhado de Lidiane), Hebron Silva Vilhena e Jackson Ferreira do Nascimento (tio da depoente) - todos acusados de integrar rede de pedofilia, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes em Boa Vista.
Antes de começar o depoimento de Lidiane, Demóstenes esclareceu que ela foi denunciada pelo Ministério Público e está presa por ser "uma das cafetinas que forneciam crianças e adolescentes para os demais acusados". Demóstenes também esclareceu que a depoente tinha o direito de permanecer calada e não responder às perguntas dos senadores. Mas, durante mais de uma hora de depoimento, Lidiane detalhou como funcionavam as atividades de abuso sexual, que envolviam também consumo e tráfico de entorpecentes.
- Nunca fui agenciadora, cafetina ou traficante de drogas. Pra mim, isso não era crime, era meu mundo, eu vivia assim - disse Lidiane, afirmando que era apenas usuária de drogas e que "as meninas" a procuravam e pediam para ela ligar para os acusados de abuso e promover os encontros.
Lidiane disse que começou a ter relacionamentos sexuais com maiores de idade quanto tinha 11 anos e, aos 16, começou a consumir drogas. Ela citou o nome de cerca de sete menores que, de acordo com ela, teriam se relacionado com o ex-procurador do estado Luciano Queiroz e com Carola. De acordo com ela, o ex-procurador tinha relacionamentos freqüentes com menores, até "várias vezes por dia" em algumas ocasiões. Lidiane também defendeu a inocência do marido e do cunhado quanto às acusações de abuso contra crianças e adolescentes.
Ainda de acordo com a depoente, Luciano Queiroz costumava passar de carro na frente de escolas e oferecer "R$ 200, R$ 300 ou R$ 400" para meninas entrarem no carro. Ela disse que teve relações sexuais com Carola desde os 13 anos e que o irmão de Carola, Valdivino, "também saía com meninas". Lidiane garantiu ainda que não recebia dinheiro de Luciano Queiroz com freqüência, mas que ele, eventualmente, pagava seu aluguel, comprava gás para ela ou lhe dava algum dinheiro.
Sobre o outro convocado e que também prestaria depoimento nesta terça-feira (12), o advogado Silas Cabral, Lidiane afirmou que ele teria se oferecido para defendê-la após ela ser presa pela PF, mas, disse a depoente, ele teria pedido para ela "aliviar" o depoimento e isentar Luciano Queiroz, Carola e Valdivino. Magno Malta informou que Silas Cabral será reconvocado a depor na CPI da Pedofilia.
O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) lamentou que o depoimento de Lidiane tivesse sido um retrato do que ainda acontece com muitas outras meninas por todo o Brasil. Demóstenes reforçou a necessidade de o Ministério da Justiça proteger Lidiane, que se beneficia da figura da delação premiada - benefício previsto na legislação para que, em troca de redução ou isenção de pena, um acusado denuncie outros participantes de um crime. Na opinião do relator, "a proteção pode chegar tarde" para Lidiane, pois uma pessoa já teria sido assassinada em Roraima por denunciar o esquema.
Agência Senado

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